terça-feira, 17 de julho de 2012

- Mentiras e Verdades -

Oi!

Estava ansiosa para vir contar como foi o fim de semana, que foi de muitas coisas boas, mas a correria de final de semestre me atropelou!

Chegamos bem cedinho ao Rio, e fomos direto para a casa de uma tia do meu bem, que nos recebeu maravilhosamente. O dia era livre, e isso facilitou para que conversássemos bastante.
Meu amor contou tudo sobre sua adicção para sua tia e seus primos.
Achei que esse foi um passo muito importante, ele parece não querer mais esconder suas misérias das pessoas que querem seu bem, e que ele sabe que torcem por ele. Ele não quer mais fingir que tudo é perfeito na vida dele. Doeu um pouco quando ele mencionou que me fez sofrer, senti vontade de sair da sala, pois as cenas daquele dia teimaram em aparecer na minha mente, mas permaneci ao lado dele, segurando sua mão. Eu sabia que era um passo difícil.

À noite fomos para a abertura do Conferência, que estava lotada.
O tema principal do evento era "O valor de um abraço". A sequência se resumia em uma partilha principal, feita por algum membro que já estava limpo há bastante tempo, e depois haviam vários sub-grupos onde um tema era debatido, também na forma de partilhas, e com tempo destinado para perguntas.
Alguns pontos abordados nesses sub-grupos foram:

"Princípios espirituais"
"Recuperação em família"
"Rendição"
"Sendo mãe em recuperação" (esse foi muito forte e emocionante)
"Esperança e liberdade"
"Espiritualidade e relacionamento"

Enfim... Todos muito interessantes... E além disso, trabalhou-se os 12 Passos.
Em alguns momentos nos separávamos, pois assistíamos partilhas diferentes.

Falou-se muito na importância de abraçar e sentir-se abraçado. Que o valor de um abraço não é algo mensurável, ele não tem preço!
Que não é um programa para TER coisas, materialista, é um programa para SER!
Achei bonito, pois todos eram muito enfáticos em dizer que é uma recuperação diária, mas ninguém falava de momentos difíceis, de recaídas, ou coisas parecidas. Todos demonstravam muita satisfação em estar limpo! Durante suas falas, eles inseriam o tema principal, explicando como um abraço dado num momento certo pode modificar nossa vida.

Lembrei de como desejei ser abraçada e cuidada naquela fase difícil que vivi ao lado dele, tanto durante sua fase ativa de drogadição, quanto logo após a internação. Mas não havia ninguém para me abraçar!


É interessante como as histórias se repetem. O sofrimento, tanto dos adictos quanto dos familiares, é sempre o mesmo. A dor é imensurável. As misérias são espelhos umas das outras.

Assisti sozinha a partilha "Sendo mãe em recuperação", e levei um susto logo que entrei na sala. Estava lotada, mais de 40 pessoas (as outras possuíam em torno de 15 a 20 pessoas), muitos ficaram em pé (inclusive eu!).
Era uma mulher, com aproximadamente 35 anos, mãe, limpa a cerca de 7 anos.
Contou que um filho era algo que sempre sonhou, mas seu pai tentou "comprá-la" de toda forma para que ela abortasse a criança, e acabou expulsa de casa quando recusou-se a fazer isso. Sua mãe foi proibida de ajudá-la, e o relacionamento com o pai do bebê não vingou.
Ela enfrentou tudo sozinha e resolveu lutar e assumir a gravidez e o fato de ser mãe solteira. Jamais desistiria desse sonho.
Porém, ela só conseguiu ficar limpa até 2 meses após o bebê nascer. Seguia para a "boca" levando o filho nos braços. Fez isso durante todo o primeiro ano de vida dele.
Até que um dia percebeu que não podia mais viver assim. Lutou tanto por esse filho e estava fazendo aquelas insanidades com ele...
Procurou o NA, e conseguiu!
Foi muito lindo o depoimento dela. Minha garganta ficou com um nó entalado, e nem sei como consegui segurar as lágrimas.
Muitos fizeram perguntas, também tão emocionantes quanto a fala dela.

A conferência, como um todo, valeu muito a pena... O evento foi muito bem organizado.
Meu amor gostou bastante, participou e até debateu com um outro rapaz que se mostrava relutante em render-se! Fiquei orgulhosa!!

Quando não estávamos lá, fizemos coisas deliciosamente rotineiras. Jogamos conversa fora em família, fizemos piadas de coisas bobas, etc. Foi delicioso!

Ele permaneceu o tempo todo muito atencioso e carinhoso comigo, sem as angústias, afobações e ansiedades típicas de um DQ na ativa.

E às vezes eu me pegava pensando "Isso é mesmo um milagre!"

No sábado fizemos uma surpresa para ele, com um bolo, parabéns e velas (seu aniversário foi ontem, 16/7).
Sua família estava lá. Para ser perfeito, faltou a mãe e irmã. Mas é claro que elas sabiam e ligaram para ele na hora do "parabéns pra você".
Ele ficou muito feliz. Nunca teve um aniversário NORMAL!

Falei com ele sobre o Blog, e ele leu e adorou. E mostrei também um vídeo fofo gravado pela irmã, cunhado e sobrinhos, em que eles desejavam um feliz aniversário!
Antes de dormir, mostrei-lhe uma mensagem que a irmã mandou com fotos deles. Ele chorou como criança e me abraçou, dizendo que estava muito feliz com aqueles momentos que estava vivendo ali.
Uma vez, antes disso tudo acontecer, em uma viagem para a casa da irmã dele, estávamos vendo umas fotos de aniversários dos sobrinhos, e ele comentou, com pesar, que nunca estava presente em nada:
"Não tem nenhuma foto comigo... Perdi tudo isso..."

Respondi que não havia problemas, pois de agora em diante ele poderia participar de todos.
E assim será!

No domingo, quando chegamos em nossa cidade, foi meio tumultuado. Eu não poderia trazê-lo para casa de minha mãe, pois ela ainda não o perdoou (e eu a respeito por isso).
O terapeuta o autorizou a voltar sozinho, de ônibus, para a instituição (que fica a, mais ou menos, 50km da minha casa).
Fomos para a rodoviária... Já era noite e cheguei a ter uma pontinha de medo, mas consegui me concentrar.
Disse apenas que ele sabia bem o que deveria fazer, e que a escolha seria dele.
"Fique calma, não há a menor chance de eu colocar tudo a perder de novo. Assim que eu chegar lá, peço a eles para te avisar."

Nem eu acreditei que consegui manter-me calma o tempo inteiro. Alguma coisa dentro de mim me dava a  absoluta certeza que ele não desviaria o caminho.
E assim aconteceu... Uma hora e meia depois ele já estava lá.

Percebi que estou conseguindo transformar meu medo em fé... Graças a Deus!
Contei a minha mãe que reatamos e tentei confortá-la dizendo que o tempo mostrará a ela que ele está bem.

Meu amor nasceu no dia de Nossa Senhora do Carmo, 16/7 (ontem), e teve uma missa especial, com distribuição de Escapulários. Como eu trabalho a noite, pedi a minha mãe que fosse e tentasse pagar um para eu dar a ele.
Hoje ela me falou: "Eu orei por ele ontem quando o Padre estava falando sobre os Escapulários..."

Como eu disse a ela, o tempo dirá...
O que importa agora é que não há mais mentiras...

Um comentário: