domingo, 3 de maio de 2015

Epilogo

O termo epílogo  (do grego epílogos - conclusão, pelo latim epilogussignifica conclusão. Indica a parte final de um discurso, no qual é feito um resumo final das ideias expostas, ou onde é apresentado o desfecho da história.
O epílogo de uma obra literária determina os últimos acontecimentos da história relatada. Nele estarão presentes todos os fatos que dão por encerrada a intriga. Numa peça de teatro, o epílogo é a última cena, a última fala ou o último ato que dá por encerrada a ação.
E assim, explicando o título da postagem, começo a escrever o Epílogo desta "Obra Literária".
O blog "Então é primavera..." nasceu no dia 02 de Julho de 2012, com a postagem "O início de tudo", que, aqui, poderá ser considerada um Prólogo.
Aqui narrei uma história de amor, de fé e de uma busca contínua pela recuperação vivida ao lado de um dependente químico. História essa que iniciou no carnaval de 1999, quando nos conhecemos; se concretizou em 2011, quando ele estava internado; se fortaleceu em 2012, quando ele chegou a um fundo de poço, e que chegou ao fim em 2014, quando ele decidiu que "queria andar com suas próprias pernas". A decisão pelo fim foi unilateral e foi narrada no dia 22 de junho de 2014, em "Se você ama alguém".
Se o desfecho dessa história foi feliz ou não, dependerá do ponto de vista de quem a lê.
No caso da minha pessoa, sim. Apesar de não ter sido da maneira como eu sonhava, eu estou muito feliz. Encontrei o caminho da minha serenidade e aprendi a olhar para mim mesma de uma forma que nunca havia olhando antes. Aprendi a ser grata por, absolutamente, TUDO! Aprendi a colocar o foco em mim mesma!
E justamente por isso, pelo foco em mim, como você pode verificar na postagem "Orgulho de mim", que finalizo esta narrativa.
Estou vivendo um momento meu! Sendo assim, não faz sentido eu vir aqui e escrever a respeito de uma história que acabou.
Aqui você encontrará 169 postagens mais o Epílogo.
Postagens que oscilam entre fases de recuperação e fases de codependência e dependência química afloradas. Oscilam, ainda, entre o amor e a dor; a sanidade e a insanidade, mas que, acima de tudo, trazem muito crescimento espiritual.
O blog não será excluído, pois, pelos comentários que recebo, sei que as minhas partilhas (aqui escritas e não verbalizadas, como numa sala de Nar-Anon) já ajudaram, ajudam e ainda poderão ajudar muita gente.
Sendo assim, caso deseje fazer algum comentário, em qualquer um dos 169 capítulos deste livro da minha vida, faça-o sem o receio de que não será lido ou publicado. Os comentários caem direto na minha caixa pessoal de e-mails, que eu tenho acesso diário, o que significa que, sim, você terá o seu comentário publicado e respondido! 
Por meio desse blog fiz amizades verdadeiras que carregarei comigo para sempre. Incrível, mas é verdade! Pessoas que nunca encontrei pessoalmente, mas que, apesar da distância geográfica e da ausência de contato físico, criaram laços verdadeiros comigo. Pessoas especiais que souberam me direcionar uma palavra certa na hora certa. Pessoas que conhecem o meu coração mais que àquelas que convivem comigo por séculos e séculos!
Gratidão a cada um de vocês, que dedica cinco minutinhos de sua vida para vir aqui e ler o que eu sinto. Gratidão a cada uma das minhas leitoras mais fieis, que sempre me incentivaram e me apoiaram. Tamujuntas, sempre!
Gratidão especial a Poly (minha musa inspiradora, rsrsrs), ao Junior, a Kel, a Sharon, a Emily e a Cris. Pessoas que eu falo com muita (ou alguma) frequência por meio das redes sociais. 
Sigo minha vida na certeza de que fiz exatamente o que meu Poder Superior, Deus, na forma como eu o compreendo, esperava de mim. Na certeza de que não o decepcionei.
Sigo minha vida na certeza, ainda, de que hoje sou uma pessoa infinitamente melhor que eu era ontem.
Sinto-me hoje como a Rosa, de O Pequeno Príncipe, única no mundo. Aprendi a ver com o coração e que "o essencial é invisível aos olhos".

Sim, é isso, eu suportei as larvas e, finalmente, conheci as borboletas. A partir dessa história, narrada entre junho/2012 e abril/2015, descobri minha importância no mundo, me olhei no espelho pela primeira vez, descobri meu valor, cresci e vivo na certeza de que desabrochei como uma flor de perfume único.


Gratidão por sua leitura!
Paz, serenidade e luz!
Beijos!

terça-feira, 7 de abril de 2015

Orgulho de mim

Oiii...

Vim apenas dar um sinalzinho de fumaça e dizer que está tudo em paz comigo!


Estou vivendo um momento único e impar na minha vida. Mal dá tempo de respirar. Muita gratidão!

Muitos não compreendem quando digo que sou muito grata por tudo que vivi ao lado do adicto, mesmo quando ele estava na fase ativa, pois, cada dia mais, tenho certeza que precisei passar por todo aquele o tsunami para chegar aonde estou hoje!

HOJE reconheço meu valor. Reconheço quem eu sou e que minha felicidade está em mim mesma.
Tenho orgulho de ter conseguido passar por tudo aquilo com tanta força e com tanta sabedoria. Tenho orgulho de não alimentar mágoas ou rancores de absolutamente NADA do que passou, nem mesmo da saída repentina dele de casa.
Tenho orgulho da forma que consigo agir e reagir nas dificuldades do dia-a-dia.
HOJE tenho orgulho de mim!

Eu sempre tive uma alto-estima nada alta... Sempre duvidei de mim mesma e não me julgava capaz.
Até que outro dia, aqui em casa, estava fazendo o trajeto cozinha x quarto quando tive um estalo. Olhei para mim mesma e vi todas as realizações da minha vida!

Nunca vivi um momento tão meu. Tão egoisticamente delicioso!

Estou no auge de minha vida profissional. Nas duas últimas semanas minha vida virou de ponta cabeça de tal maneira que até agora eu me pergunto se não é um sonho!
Fui transferida para outro setor, que é, digamos assim, a "menina dos olhos" do Governador!
Muito trabalho e muito estudo.
Gratidão pelo reconhecimento! Estou muito feliz
Além disso, vou me preparar para a prova de mestrado.

Quanto ao adicto...
ZERO de notícias!
Em meados de fevereiro minha cachorrinha passou muito mal. Fiquei desesperada e peguei o celular para mandar um WhatsApp pedindo socorro para ele, quando me deparei com uma foto dele abraçado a sua nova namorada.
(Lembrando que ficamos juntos poucos dias antes do carnaval!)
Minha reação???
Inerte!
Apenas peguei minha pequena e levei a outra clínica veterinária. Ela foi super bem atendida, internou, foi medicada e dois dias depois já estava boa!

Desde então, não soube mais nada dele. 
Mas, infelizmente tenho um sexto sentido muito forte com ele, mas as minhas suposições, quase certezas, eu guardo para mim.



É isso, pessoas...
Vida seguindo. Serena e em paz.
Tempo corrido.


PS: ontem fui surpreendida com uma notícia muito, muito, muito ruim que me tirou o rumo.
Uma professora, que trabalhou comigo na Escola, estava afundada nas drogas de uns tempos pra cá. Ela chegou ao ponto de os alunos perceberem que ela estava usando e ser pega usando na Escola. Já havia várias denúncias na corregedoria.
Ontem ela faleceu!
Jovem e bonita!
Escolhas... Consequências...


Beijos, paz, serenidade e luz!
Qualquer dia eu volto...

sexta-feira, 13 de março de 2015

No espelho...

Saudades...

Hoje vim partilhar com vocês algumas coisas ocultas de minha relação com o adicto. E outras coisas ocultas desde a nossa separação.

Antes da separação, passamos por vários altos e baixos.
Quanto aos ALTOS...
Ele sabia, como ninguém, me fazer a mulher mais feliz do mundo!
Era gentil, divertido, carinhoso.
Foi meu melhor amigo, companheiro, homem e amante...
Ele não era muito jeitoso para lidar com as minhas aflições e angústias. No início isso me incomodou bastante (sintomas de codependência: colocar nossas angústias nas mãos do outro!), mas depois percebi que não era por não me amar, mas por que essa era mais uma de suas limitações.

Quanto aos BAIXOS...
Como grande parte dos adictos, ele só consegue entrar em recuperação quando "está por baixo".
Ele é bom e honesto, mas não acredita em si mesmo.
Se o DQ não mantiver firme o propósito da recuperação, a auto-suficiência o domina muito facilmente. E isso acontecia muito com ele.
E nessa hora toda sua bondade caia por terra. Ele era hostil, grosseiro, prepotente e arrogante.
No início eu reagia, o que tornava a situação muito pior.
Demorei a assimilar a frase: "Não adianta buscar por resultados diferentes repetindo as mesmas atitudes!"


Quando mudei minha forma de agir e reagir, as coisas caminharam por novos e melhores rumos...

Não... Não foi nada fácil manter a relação.
Na fase ativa, por inexperiência e imaturidade, me coloquei em diversas situações humilhantes e de risco. Cheguei a um fundo de poço extremamente fundo! Adoeci...
E depois que fomos morar juntos, após sua internação, também me joguei em diversos fundos de poço. Todos em função da codependência!

Mas a relação NUNCA foi um fardo para mim. Sabe por que? 
Primeiro porque eu me apaixonei por ele no exato instante em que o vi pela primeira vez, em 1999!
Eu nunca esqueci aquela cena, naquele dia de carnaval...
E segundo porque meu amor por ele é (era) incondicional. E eu SEMPRE acreditei na sua capacidade de se recuperar.
Você sabe o que é amar assim?
É amar o outro independente de qualquer que seja sua condição. É aceitar o outro com todas as suas qualidades, mas também com todas as suas misérias, suas limitações. E amadurecer com isso!
É receber o outro em seu pior estado de (in)sanidade e, ainda assim, conseguir retirar dele o melhor.


É um amor que não prende e que não humilha.
Apenas quem ama incondicionalmente é capaz de deixar o outro ir, mesmo quando o coração implora para que ele fique, é capaz de aceitar as escolhas do outro sem contestar.
As mães sabem muito bem o que é esse tipo de amor!

Eu estou 100% em paz desde que ele se foi, simplesmente porque eu aceitei sua escolha.
Lógico que fiquei triste várias vezes, que chorei, que desejei que fosse um pesadelo...
Mas, mesmo assim: EM PAZ!
Minha vida não cansou de evoluir...
Eterna gratidão!

Amar incondicionalmente é diferente de amar cegamente.
O primeiro é saudável, puro e santo, pois ele nos ensina a estabelecer limites a nós mesmas e ao outro. O segundo é doentio e insano!

"Eu não posso ficar com você. Eu quero beber e fumar meu baseado, e com você eu não posso fazer isso. Você não merece!"

E, quer saber? Não mereço MESMO!
Encarei esta frase como uma tremenda declaração de amor, porque ele preferiu me poupar de reviver no inferno, já que queria voltar a usar.
No dia que ele me falou isso, recentemente, na porta do prédio onde está morando, eu pensei (não verbalizei, apenas pensei!):

"Caramba! Como você é imbecil! Até quando você vai ficar batendo cabeça? Como consegue ser tão idiota a ponto de pensar que para ser feliz é preciso bebida e maconha? Até quando você vai insistir com a ideia de que consegue ficar "só" na bebida e na maconha?"

Mas, ao mesmo tempo, pensei também:

"Gratidão por me poupar! Gratidão por não permitir que eu passe por isso de novo!"

Eu fui sua melhor mulher e amante. Fui também sua melhor amiga, irmã, conselheira e terapeuta.
Não existe absolutamente NINGUÉM no mundo que o conheça como eu. E ele sabe disso e já verbalizou diversas vezes.

"Você me conhece como ninguém, mais até que minha mãe."

Não estou me gabando, mas tenho certeza ABSOLUTA que ele jamais encontrará outra mulher que o aceite, com todas as suas limitações, e acredite nele como eu. Ele NUNCA encontrará outra mulher que o incentive tanto quanto eu, em tudo, tanto profissionalmente, quanto pessoalmente. E TODOS que conhecem nossa história dizem a mesma coisa.

"Se não fosse por você, eu não estaria aqui. Você salvou minha vida."

 Outro dia, por acaso, uma pessoa me contou que um amigo dele de infância comentou:

"É, depois que ele terminou com a Flor, já tá pirando de novo, só no rock!"

Passo Um: sou impotente perante as escolhas do outro!

Desde que ele se foi, tivemos vários momentos juntos, inclusive quando ele estava com a "ex-emocionalmente-instável".
Como eu disse na postagem anterior, desde que nos separamos, foram vários momentos de ausências e também de presenças.
"...Nas ausências: tsunamis e calmarias...
Nas presenças: calmarias e tsunamis..."

Algumas vezes ele impedia que a doença o controlasse e aceitava suas fraquezas (calmarias). Então ele chorava no meu ombro, pelo inferno que estava vivendo, por conta de suas escolhas.

"Quando eu estava com você, eu recebia o dobro do que estou recebendo agora ($)... Larguei a pós-graduação, tranquei... Eu não sei me divertir... Ao seu lado eu sempre tive paz... Eu fico lembrando de tudo que vivemos juntos. Isso me faz bem!... Sinto muita saudade de sua mãe, de sua família, das cachorras..."

Mas, no "minuto seguinte", a doença voltava a dominá-lo, e ele recuava (tsunamis).
Fui acusada de estar atrapalhando sua vida, pelas brigas com ela.
Insanidade total!
Mais de uma vez ele me ligou, enquanto estava com ela, gritando ao telefone e me mandando parar de escrever no blog.
Mais de uma vez ele também me ligou dizendo que sentia minha falta.

Nas ausências, tsunamis...
Então eu chorava e rezava... E a gratidão pela paz de ser poupada pelo retorno da fase ativa aparecia em mim...
Nas ausências, calmarias... 

Por que isso tudo? Por que essa inconstância?
Simples...
Porque ele é um doente!
Sim, tanto o alcoolismo quanto a DQ são doenças mentais, reconhecidas pela OMS, cujos principais sintomas são: o desvio de caráter, o comportamento inadequado e a não aceitação de suas limitações.
Eles tem consciência do que fazem, mas se sabotam e justificam seus atos o tempo todo, levando a manipulações e mentiras frequentes.

Mas mesmo com todas as dificuldades, não me arrependo de nada! Não voltaria atrás para rasgar essa página da minha vida. Não teria desistido.
Sempre digo que eu não seria quem eu sou hoje se não tivesse vivido isso tudo!
Deus nos uniu...
Mas não adiantou (e nunca vai adiantar) essa ser a a vontade de Deus, afinal, Ele é tão amoroso e educado que nos deixa livres para aceitarmos ou não a vontade Dele para nossas vidas.
E o adicto não aceitou!

Esses dias soube que ele já está com outra...
E assim será... Outra, e mais outra... E mais uma...
Certamente elas não saberão da realidade da situação, e, de certa forma, serão "vítimas", e quando a corda apertar, elas vão cair fora... E a história se repetirá!
Afirmo isso, pois suas últimas palavras, no último dia que o encontrei (no início de fevereiro), foram:

"Não quero mais viver como um robô. Não quero ser cobrado por todo mundo se estou bebendo. Quero viver como uma pessoa normal. Fumar meu baseado e tomar minha cerveja quando der vontade."

Nesse dia, eu olhei para ele com os olhos marejados e falei: "Então tá!"

Eu não tinha forças para dizer mais nada.
Entrei no carro, fui para minha casa e chorei por alguns minutos.
Depois, minha cachorrinha começou a lamber meu rosto e fazer festa...
Eu sorri, levantei, peguei minha pequena no colo e a apertei bem firme!
Agradeci a Deus pelo crescimento e por quem eu havia me transformado.

Foi então que eu olhei ao meu redor e, pela primeira vez, me dei conta de tudo que conquistei, da casa linda, aconchegante, confortável que eu tenho. Tudo que existe ali dentro foi conquistado com muito esforço e tudo foi planejado com muito amor.
Enxerguei o quão bem sucedida eu sou: sou graduada, pós-graduada e concursada. E por ser reconhecida como professora, fui convidada para atuar na Secretaria, representando minha disciplina. Sou muito amada por meus (ex) alunos. Onde quer que eu encontre um deles, sou recebida com um abraço apertado e gestos de carinho. Tenho amigos de verdade que me acolhem e também puxam minhas orelhas. Tenho uma família cheia de defeitos e que, por isso, é muito abençoada! Uma mãe que me ama e me apoia em tudo. Tenho fé e tenho Deus!
Enxerguei, pela primeira vez, o meu valor!

E então, eu fui até o espelho e dei um sorriso para mim mesma...


Paz e luz!

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Contrários

Saudações e saudades...

Às vezes sinto vontade de vir aqui, Às vezes não.
Hoje deixei a vontade de escrever prevalecer e vim dar um "oizinho"!

Já se passaram oito meses...
Às vezes penso que os oito meses correram dentro de seu curso normal, às vezes sinto que o tempo parou, outras vezes acho que o tempo voou e já tem muito mais que uma eternidade.
Em oito meses de separação eu não pedi a Deus que o trouxesse de volta para mim um dia sequer.
Ele resolveu seguir outros rumos e eu sei que é mais saudável para mim aceitar essa realidade.

Não...
Eu não pedi a Deus e cada dia mais desejo não pedir que o traga de volta.
Eu só peço a Deus que seja feito conforme a vontade Dele.

Amar é permitir a liberdade.
Amar é deixar ir, principalmente quando percebermos que a presença pode ser nociva.

Em oito meses eu não culpei a Deus por um segundo sequer, não senti raiva Dele, não me voltei contra Ele.
Nada.

Ao contrário, a sensação que eu tenho é de ter desapontado a Deus.
Não é um sentimento de culpa em relação ao adicto, sei muito bem da minha impotência perante ele e que fiz, absolutamente, TUDO que eu podia.
Não sei explicar bem, mas a sensação de ter fracassado com Deus existe.
E isso é o que mais me doeu nesses oito meses!

Esse sentimento fez com que minhas orações se modificassem. A sensação de ter falhado me travou bastante para orar.
Não deixei de confiar, de acreditar que Ele quer o meu melhor em nenhum momento, mas sinto uma espécie de "vergonha" de pedir qualquer coisa e, ao receber a graça, decepcioná-Lo novamente.

Mas, em contra partida, eu sinto muita gratidão e mesmo nos momentos mais vazios eu agradeci.

A única coisa que me sinto no direito de pedir é que Ele tire do meu coração toda a saudade que permaneceu.

São oito meses de ausência e de presença.
Desencontros.
E alguns encontros .
Algumas lágrimas.
Muitos sorrisos.
Mágoas.
Perdões.
Mãos separadas e mãos unidas.
Ofensas e abraços.
Oito meses de pressentimentos sobre suas recaídas.
Oito meses de ausências.
E de presenças...

Nas ausências: tsunamis e calmarias...
Nas presenças: calmarias e tsunamis...

Sentimentos e situações contrárias: essa é minha rotina!


"...Só quem já perdeu na vida sabe o que é ganhar
Porque encontrou na derrota algum motivo pra lutar
E assim viu no outono a primavera
Descobriu que é no conflito que a vida faz crescer

Que o verso tem reverso
Que o direito tem um avesso
Que o de graça tem seu preço
Que a vida tem contrários
E a saudade é um lugar
Que só chega quem amou
E o ódio é uma forma tão estranha de amar

Que o perto tem distâncias
Que esquerdo tem direito
Que a resposta tem pergunta
E o problema, solução
E que o amor começa aqui
No contrário que há em mim
E a sombra só existe quando brilha alguma luz..."
(Contrários, trecho - Pe. Fábio de Melo)


sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

O que esperar deles?

Olá...

Hoje quero falar um pouco sobre expectativas...

No que diz respeito a cumplicidade, o que esperar de um dependente químico na relação?
Será que podemos esperar algo deles?
A minha resposta é: DEPENDE!
Tenho DUAS linhas de raciocínio quanto a esse questionamento.

1ª Linha: DQ em recuperação

Um adicto está em recuperação quando ele aceita suas limitações e entende que precisa encontrar e aprender uma nova maneira de viver.
Esse homem (ou mulher) será como outro qualquer: com inúmeras qualidades e defeitos.
Ele será seu melhor amigo, seu companheiro, um marido fiel. Poderá ser um pai maravilhoso, caso optem por filhos. 
Você poderá fazer planos de viagens, ir ao cinema, andar de mãos dadas, conversar, sorrir.
Poderá também chorar junto na hora que o coração aperta.
Esse homem pode te ajudar nas tarefas de casa, te fazer surpresas, trazer presentes. Sonhar com a casa própria.
Esse homem vai te abraçar e cuidar de você com todo amor que você merece.
Esse homem reconhecerá o seu valor!


Com ele você pode ter momentos de altos e baixos, não por causa das drogas, mas porque em 100% dos relacionamentos esses altos e baixos existem!
Afinal, nem mesmo no mundo maravilhoso de Alice a perfei
ção existe!

Ouso a dizer, que esse homem poderá ser ainda mais completo que um "homem normal", como a sociedade gosta de dizer, porque ele compreende a importância de viver em serenidade e em busca de seu bem estar. Ele valoriza cada conquista e quando faz algo "errado", o Programa "grita" em sua mente e ele liga a luz de alerta.
Esse homem te vê como um anjo na vida dele!

Falo isso com propriedade, pois conheci vários adictos, com anos e anos de recuperação, e que são maridos maravilhosos. E eu nunca acreditaria que, num passado qualquer, já fizeram atrocidades para sustentar o vício se eu não tivesse escutado seus testemunhos!


2ª LinhaDQ fora da recuperação

A doença da DQ leva ao desvio de caráter.
É importante destacar que essa característica, na verdade, independe da droga, mas no DQ ela é um pouco mais latente. Conheço pessoas com um tremendo desvio de caráter, mas que não usam drogas!

Quando ele ainda não se aceitou, as coisas complicam um pouco mais...
Certamente você não poderá contar com ele para muitas coisas, aliás, para quase nada!
Triste realidade...

Ele não conseguirá te ajudar no mínimo que você precisa.
Já ouvi relatos de cortar o coração: grávidas, mamães etc.

Não ache que ele vai te ajudar a trocar as fraldas do bebê...
E não adianta implorar ou fazer chantagens. Ele não vai se comover!
Às vezes você está com problemas pessoais e só quer conversar ou precisa de um abraço apertado e de escutar a frase: "Calma, tudo vai dar certo!"
Às vezes você só quer desabafar...
Mas o adicto não vai conseguir te ajudar nessa...
O egocentrismo o domina!
Por mais que você sempre esteja disposta a ajudá-lo quando ele pede, na hora em que você pedir ajuda, não vai conseguir!
Ele não se importa com as contas da casa, com as crianças crescendo sem pai, com suas angústias, com nada...
Você não terá nada dele. Não quer dizer que ele não te ama, mas infelizmente ele tem "outras prioridades". É mais forte que ele.

Você pode estar com a cabeça a mil por hora, cheia de confusões mentais, problemas financeiros, de saúde, de medo de tudo. Não tente dividir suas angústias ou conversar sobre o trabalho com ele, porque você vai se frustrar!

Às vezes você daria tudo por um simples abraço apertado para amenizar seus problemas, mas ele não é capaz nem disso!

O mundo gira ao redor dele, apenas dele.


O que fazer, então?
Bom, o caminho que indico é que vá para o grupo e aprenda a praticar o exercício do desligamento. Aquiete seu coração no grupo...
Não crie expectativas em ABSOLUTAMENTE nada pois elas nos levam a frustração e a dor...
Olhe para si mesma e aceite as 24 horas que Deus te presenteou!



PS1: eu tive momentos com os dois personagens em minha ralação...

PS2: estar limpo é diferente de estar em recuperação (meu DQ já passou pelas duas situações).

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Não resisti, vim dar um "Oizinho"...

Oiê...

Não resisti, precisei vir aqui para dizer que estou bem.
Final de ano tranquilo, assim como o início do novo ano.
Em paz e conseguindo manter a serenidade ao longo das 24 horas que recebo para desfrutar a vida.

Ainda não é hora de voltar a escrever de maneira rotineira.
Ainda não é hora de muitas coisas. E repito isso para mim mesma todos os dias.

Entretanto, eu resolvi dar uma passadinha aqui para explicitar no que (ou em quem) me transformei após a dependência química ter feito parte de minha vida...

O desabrochar de uma Flor...


Da infância a adolescência...
Sempre fui sonhadora e vivia num mundo paralelo acreditando que os sonhos deveriam ser como nos contos de fadas  e não me conformava quando descobria que as coisas "não eram bem assim".
Um ciclo contínuo de autopiedade e uma sensação de vazio associada a sentimentos depressivos e de solidão me acompanharam desde a infância...
Eu era insatisfeita comigo mesma, com minha aparência, com meu corpo...
Eu não me aceitava e cresci me jugando como a pior das criaturas, aquela que sempre faz tudo errado. Sofria demais por tudo.

Da adolescência a juventude...
Entrei na faculdade muito nova, aos 17 anos, e fui morar em outro estado, a 650 Km de casa. Na época, nem eu acreditei que tive essa coragem. Eu não fazia nada sozinha, sempre fui dependente de alguém.
Só comecei a entender que eu tinha algumas capacidades por volta dos 20 e poucos anos, mas ainda assim, o medo era meu maior companheiro.
Auto-estima era uma palavra que não existia no meu vocabulário. Tive alguns "lances afetivos" nessa época, mas nada sério. Nenhum relacionamento concreto.
A auto-piedade era muito viva em mim. Latente...
Entretanto, eu já sabia que eu existia!
Concluí a faculdade e retornei para casa.

Da juventude a vida adulta...
Os sentimentos de vazio ainda faziam parte de mim. Culpas, medos, autopiedade, solidão, auto-estima  ZERO...
Lembro que só tive coragem de sair de casa usando um short (para algum lugar que não fosse praia) aos 26, 28 anos, por aí...
Conheci o DQ de minha vida em 1999, num carnaval, com 23 anos.
De 1999 até 2005 tivemos encontros e desencontros que aconteciam esporadicamente e sem compromissos.
Mas sempre era bom, deliciosamente divertido, mesmo sem termos nada sério, concreto...
Ele sempre soube me fazer sorrir.

Em paralelo, tive meu primeiro relacionamento sério com um outro cara. Eu era professora e ele office-boy. Foi uma história meio "Eduardo e Mônica", mas sem o final feliz narrado por Renato Russo. Uma relação doentia e dada ao fracasso desde o início.
Eu dependia emocionalmente dele e cai num fundo de poço com o término. O sentimento de autopiedade ficou ainda mais intenso...
Comecei a fazer terapia em 2007 e levei alguns anos para me reerguer.
Hoje olho para trás e vejo como, desde aquela época, eu já era completamente codependente.


RESUMINDO: levei cerca de 35 anos para começar a entender que eu era alguém.


A vida adulta - PARTE I
ANTES e DURANTE a DQ...
Com a terapia eu entendi que eu existo, que tenho valores, qualidades etc...
Mas ainda permaneci muito tempo cheia de conflitos e a auto-estima meio complicada. 
O DQ reapareceu na minha vida em 2011. Mas dessa vez iniciamos um relacionamento e hoje sei que aquele encontro de 1999 foi amor a primeira vista...
Eu acabara de sair do fundo de poço do relacionamento anterior.
Lembro das palavras de minha psicóloga: "Fique atenta, os DQs são extremamente sedutores!".
Acho que não compreendi muito bem o que ela queria dizer e encarnei o espírito de salvadora da pátria que tinha a missão de cuidar dele e protegê-lo. Tornei a me afundar! Claro!
E o poço foi muito, muito, muito fundo dessa vez...
E o resultado foi a internação dele, em 2012, de maneira traumática e dolorosa.
Ele havia perdido tudo, só lhe restava a vida.

A vida adulta - PARTE II
Dentro do poço havia uma mola...
Não sei explicar muito bem de onde veio a força que me impulsionou, acho que foi da fé.
Percebi que não adiantaria ficar lamuriando e deixando a dor me corroer. E então, descobri que havia uma mola dentro do poço, e essa mola me ajudou a sair de lá.
Algo dentro de mim gritava por respostas, eu queria compreender o por que daquilo tudo e, por isso, quando ele estava internado estudei muito sobre sua doença. Eu consigo perceber, com riqueza de detalhes, a metamorfose que passei.
O fato de ser professora de química, abordar o assunto nas aulas e trabalhar num ambiente onde a droga faz parte do contexto me ajudou bastante.
Três meses após sua internação nós reatamos.

Foi a primeira vez na minha vida que eu fiz algo que EU queria fazer, que tomei uma decisão com base nos MEUS sentimentos. E eu estava disposta a encarar o mundo para assumir a MINHA decisão de ficar com ele, independente do nariz torcido de alguém.

Eu era outra pessoa.

- Aprendi que não tenho que dar satisfação da minha vida para ninguém (salvo minha mãe).
- Não preciso que as pessoas aprovem minhas escolhas. Sou responsável por elas e por suas consequências.
- Aprendi que sou a única responsável por minha felicidade e por minhas tristezas.
- NINGUÉM, além do meu Poder Superior, sabe dos anseios do meu coração. As pessoas sabem apenas o que eu permito que elas saibam.
- Aprendi que em boca fechada não entra mosquito.
- Aceitei por inteiro meus defeitos e descobri minhas qualidades, meu valor e meu potencial.
- Descobri a felicidade pertinho de mim.
- Enxerguei que usava a máscara da auto-piedade e resolvi tirá-la.
- Descobri que minha auto-estima estava quase anulada e precisava mudar isso.

A vida adulta - PARTE III
Hoje completam-se exatos seis meses que o meu grande amor se foi.
E eu estou viva.
E outro dia, pensando na vida, comparei o rompimento com adicto com o rompimento com aquele outro cara, que mencionei na fase da "juventude a vida adulta".
Fiquei muito feliz com o resultado ao perceber o quanto evoluí...

Aceitação é a palavra que descreve o rompimento.
Chorei desesperadamente durante QUATRO dias. Depois olhei para mim mesma e disse:
"Eu tenho um Programa de Recuperação e um Deus amoroso que quer o meu melhor e que sabe de todas as coisas".

Aceitei a realidade que Deus havia preparado para mim, e a cada dia eu digo a mim mesma:
"Só por hoje o que eu tenho é a ausência dele aqui. Posso aceitar isso ou sofrer. Escolho aceitar!".

Aceitação, maturidade, sabedoria e uma busca contínua pela serenidade. É assim que eu vivo durante as 24 horas que recebo do meu Poder Superior.
A certeza de que tenho muitas qualidades e o reconhecimento de meus defeitos e meus desvios de caráter fazem com que a minha auto-estima cresça.

Ainda tenho um longo caminho, principalmente no que diz respeito a ansiedade, meu imediatismo. Eles fazem com que eu me sabote sempre.
Meu foco agora é trabalhar para controlar isso.
Acho que existe um ar de adicta em mim, pois tenho dificuldades em relaxar (risos).
Ainda tenho medos e receios. Ainda erro muito, mas aprendi a me perdoar diariamente e isso tem me trazido uma enorme leveza e paz no coração.

Mas, ao menos, hoje eu sou capaz de identificar os momentos de aflição exagerada, o que me leva a tentar respirar fundo, contar até 10 e esperar... Esperar o tempo certo...

RESUMINDOCom a ajuda de um Programa, levei cerca QUATRO anos para sofrer uma  metamorfose. Foi tudo muito rápido e mágico!


Concluindo: Precisei passar por um tsunami para me descobrir e me transformar numa pessoa infinitamente melhor do que eu era.
A DQ é muito triste e avassaladora, mas eu lutei para tirar o melhor dela.
Sim, eu aprendi que em tudo que passamos na vida podemos tirar algo de bom, basta mudar o olhar e enxergar as graças divinas.
Gratidão por eu ter me transformado em quem eu sou hoje!


Reflexão para hoje: 
Que eu me lembre sempre que a autopiedade destrói, enquanto a auto-estima me faz crescer. Crescendo sou capaz de me transformar em um ser humano desprendido e rico em emoções, podendo espalhar paz e serenidade onde vivo.
(Trinta e um dias no Nar-Anon - dia 5)

Paz, luz e 24 horas de serenidade a cada um de vocês!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Até breve...

Preciso deixar meu até breve.
Preciso assumir que não dá mais.
Aceitação é um dos pontos que trabalhamos no processo de recuperação.
Então preciso aceitar que não dá mais pra escrever.

Muita gratidão a cada um de vocês que está aqui comigo e que me ajudou a ser alguém melhor...
Isso não tem preço!

Mas não dá...

Calma, calma, calma....
Estou bem, serena e cada dia mais em busca do meu bem estar, como sugere a primeira tradição.
Estou feliz e em paz. Durmo tranquila e sem culpas todas as noites.

É claro que às vezes ainda saio do eixo, mas não me abalo. Não me cobro mais por isso, não me cobro a perfeição.
Normal sair do eixo às vezes...

Mas não dá mesmo!

A quebra de anonimato dele em relação a nossa história, que era tão linda e sagrada até então, foi inaceitável para mim. Já mencionei sobre isso aqui e sobre o quanto doeu.

Saber que a "namorada" pode ter acesso a MINHA vida, aos MEUS sentimentos e a NOSSA história não está sendo fácil de digerir e como não gosto de alimentar sentimentos ruins, melhor parar.

Incomoda-me decidir parar de escrever, já que é algo que faço com amor.
Amo poetizar a vida. Amo metáforas. Amo escrever... Se eu não fosse professora de Química seria de língua portuguesa!
Incomoda-me bastante também o fato de ter que me policiar sobre o que devo ou não devo escrever.
Incomoda-me...
Então, se for para escrever assim, prefiro abrir mão.

Eu deixarei de escrever, mas jamais conseguirei apagar os registros dessa história.
Não dá para retirar do papel as marcas deixadas pelo lápis...


Aqui tem o registro de uma linda história de amor, dedicação, luta, dor e vitórias.
Aqui tem crescimento espiritual.
Tem momentos de insanidade também, mas mesmo nesses momentos, há uma busca constante pela serenidade. 

Entretanto, eu não tenho como saber (e nem quero) a frequência com que ela acessa ou já acessou esse blog. Mas, se ela acha que EU (coitada de mim!) estou atrapalhando o namoro dela (palavras dela!), imagino que ela possa estar um pouco dominada por sentimentos inconstantes.

E isso não é bom para ninguém, principalmente para mim, que, ao contrário do que ela disse, não tenho culpa de nada.

Apesar da raiva aparecer as vezes, meu sentimento por ambos é de compaixão.
Já comentei isso aqui.
Compaixão por ele: porque não acredita em si mesmo e prefere viver na negação da doença.
Compaixão por ela: porque é muito triste viver uma relação assim, culpando uma terceira pessoa pelo que dá errado.

Sinto muito!

Enfim, se para evitar conflitos e viver em paz eu preciso abrir mão do blog, assim o farei...
Não dá mais.
Não dá para continuar partilhando a minha vida com vocês, sabendo que existe alguém que se incomoda tanto com minha existência, que pode estar acompanhando isso.

Definitivamente não dá...
Só por hoje não dá...

Então é um ponto final? Ou reticências?
Não sei...
Mas, vale lembrar que na última postagem mencionei sobre minha decisão de direcionar o foco para mim mesma.
Então, esta é a hora. E estou conseguindo fazer isso.
É um processo um pouco dolorido, mas que está valendo a pena.
E mudar o foco inclui não falar mais dele.

Depois do que ele fez, não quero o mínimo contato.
Já convivi muito tempo com ele na fase ativa e sei muito bem do que um adicto é capaz de fazer.
E não podemos esquecer que a doença é progressiva.

Mas, independente das atitudes dele, meu sentimento por ele é de extrema gratidão.
Apesar de ter me magoado muito ao me expor, o fato de ter me deixado foi a maior prova de amor que ele poderia me dar, afinal, ele me poupou de sofrimentos maiores, me poupou de reviver todo aquele furacão da doença ativa.
Sim, eterna GRATIDÃO!

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Quanto a mistura "água + vinho"...
Só tenho uma coisa a dizer...
Estou feliz e sem expectativas. Continuamos nos conhecendo, conversando, conversando, nos conhecendo, conversando mais um pouco...
Está tudo bem!

Quanto a nós, eu e vocês, minhas companheiras, estaremos unidas sempre.
Sabemos como nos encontrar, nos reconhecer e nos comunicar.

Saibam que estou bem e feliz!

Amo vocês...
Gratidão por me ajudarem e me amarem!