segunda-feira, 25 de março de 2013

Preciso de um curto-circuito!

Sentimentos e pensamentos me rodeiam o tempo todo.

Minha mente sempre foi muito fértil, e às vezes até mirabolante. Tenho pesadelos, sonhos estranhos, insônias, medos, sentimentos de vazio.

Um cenário está sempre presente em meus sonhos, desde a infância: as escadas ou as ladeiras! Elas sempre aparecem lá. Às vezes fazem parte do contexto, às vezes simplesmente estão lá, enfeitando! Principalmente se eu estou vivendo momentos tensos e conflitantes.
E eu tenho medo de escadas e de ladeiras íngremes, muito medo, principalmente para descer. Minhas pernas chegam a tremer. E meu medo aumenta nas escadas rolantes de descida e nas escadas vazadas.

Eu sempre vivi de altos e baixos. Meus sentimentos sempre oscilaram entre a Primavera e o Outono.

Hoje sou muito mais preparada e madura para lidar com isso, e sei reconhecer quando estou mudando de estação. Hoje consigo partilhar minhas emoções com as pessoas que confio ou que me sinto à vontade para isso. Mas nem sempre foi assim. Durante minha infância e adolescência eu me trancava dentro de mim mesma, em meu casulo. Eu acreditei que não era ninguém, e me tornei vítima de meus fantasmas.

Eu só fui desabrochar para a vida no início da juventude. Passei então a tentar apostar na auto-confiança, a não ter tanto medo de mim e da vida, me tornei um tiquinho mais segura (tiquinho meeesmo!).
Na verdade hoje eu consigo fingir que sou auto-confiante e que minha auto-estima é minha melhor amiga, e finjo muito bem!

Mas isso me incomoda. Ontem, assistindo ao Fantástico, fiquei pensando se eu sou bipolar, apesar de saber que não sou, pois já falei sobre isso com minha psicóloga (rsrs). Meu coração ficou apertadinho ao ver àqueles depoimentos. Senti vontade de chorar.

Em alguns momentos, me identifico com a Liz, de "Comer, Rezar e Amar". É uma história verídica. Em certos trechos da história ela narra como seus fantasmas chegam para lhe tirar momentos alegres e jogá-la novamente na solidão. E, com o intuito de sanar suas fraquezas, ela resolve morar em três lugares do mundo (por quatro meses em cada lugar) buscando aprendizados que lhe tragam auto-confiança, auto-conhecimento e crescimento na fé. 
Pena que eu não tenho o dinheiro e nem a disponibilidade de tempo dela!

É, estou no meu Outono...

É importante destacar, que essa minha fragilidade emocional, que me trouxe de volta ao Outono, não tem relação com a adicção de meu amor. Ele está sendo meu alvo, mas o medo não voltou a me assombrar por causa dele. Claro que, para piorar tudo, meus surtos de insegurança acabam, sim, afetando nossa relação. E o egocentrismo dele, típico da adicção, o deixa cego e inerte. Ele não sabe lidar com emoções.

Sabe aquelas mulheres que têm depressão pós-parto? Então... É mais ou menos por aí... Elas não deixam de amar seus bebês que tanto desejaram, elas simplesmente entram numa nuvem de conflitos e não sabem lidar com a situação. 

Eu não consigo praticar o desligamento emocional da forma como deveria.
Eu me desliguei completamente da doença dele. E isso eu fiz bem, e foi muito bom para mim. Eu não sofro, não fico matutando se ele vai voltar para casa ou não. Eu me proibi de viver assombrada pela droga. Simplesmente confiei e entreguei, e deu super certo. Deus está no controle de tudo no que diz respeito a "nossa relação x adicção".

Mas a entrega de minhas fragilidades, o desligamento de minhas emoções e medos, isso eu não consigo controlar.
(Ai que saco!)

Estou cansada dessa minha dor, de viver na inconstância, de não conseguir lidar com isso... Eu estou muito mais madura hoje, e percebo claramente que preciso dar um passo inicial, sair da angústia. Deixar a Primavera trazer as flores perfumadas. Sinto medo de viver assim para sempre, medo de chegar a um ponto de descontrole total. Mas mesmo assim deixo minha imaginação tirar meu chão.

No momento, talvez o esgotamento mental seja um fator complicador. Estou há dois anos sem férias, pois ano passado trabalhei numa consultoria quando era para eu descansar, e esse ano fui relocada para a Secretaria de Educação no final do ano, então minhas férias foram pro beleléu! Exausta, física e mentalmente.

Mas estou decidida a fazer algo por mim. Não posso mais ver meus sonhos escorrendo por meus dedos.
Ouvir as verdades do terapeuta muito me ajudaram. Acho que o que eu preciso agora é de alguém que me diga, com todas as letras, aquilo que eu já sei, mas que tento fingir que não sei! Tratamento de choque, sabe?

E é isso... Vou em busca de um curto circuito total na minha vida, que me causem muitos choques e me obriguem a consertar toda rede elétrica que move minha vida.

Torçam por mim!

Beijos e boas próximas 24 horas!
Fiquem com Deus!

domingo, 24 de março de 2013

Puxão de orelhas


Oi pessoas...

Desejo coisas boas e paz.

Ontem foi um dia bem difícil para mim. Difícil, pois ouvi muitas verdades a meu respeito. Verdades essas que já me eram conhecidas, verdades que me fazem sofrer e me causam dor, verdades pelas quais venho lutando para vencer ao longo de toda uma vida. Mas a cada dia tenho mais certeza de que não estou lutando como deveria. E ontem eu ouvi isso de um profissional.

Engraçado que estou tão focada nos meus conflitos, na minha dor, eu estou vivendo isso de maneira tão intensa já há alguns meses, que a recaída dele mal me abalou. Eu nem lembro que aconteceu! (Talvez o fato de ter sido “somente por uma noite”, e por ele ter procurado socorro no mesmo dia, tenha me ajudado nisso! Mas o fato é que nem me lembro dela, graças a Deus!) 

As coisas mais importantes que aprendi ao longo de sete anos de terapia foram:
- perceber aquilo que eu NÃO quero para minha vida;
- me conhecer e perceber que tenho muitas qualidades, que até então, eu desconhecia;
- identificar cada uma de minhas fraquezas e, ao invés de colocar-me como vítima, assumir que me sinto impotente perante minhas emoções;
- e descobri que tenho diversos conflitos internos, que nasceram na minha infância.

Isso foi uma grande evolução para mim, pois antes eu nem identificava nada disso. O problema é que reconheço também o meu maior erro, que é não me esforçar para aprender a vencer essas fraquezas.

Assim como o DQ tem dificuldades de tomar a decisão de parar de usar por saber que será uma luta diária e árdua, acho que eu também estou me escondendo em minhas dificuldades. Eu não estou fazendo o que deveria fazer para vencê-las. Talvez seja uma zona de conforto minha, ou um medo de conhecer o desconhecido.

Tivemos uma consulta juntos, com o padrinho/terapeuta.
Ele me apontou várias coisas que, como eu já mencionei, eu já sabia, mas que não estou conseguindo modificar, ou até mesmo, tenho receio de modificar. Tudo é muito confuso para mim, muito difícil! Minha cabeça vive cheia de nós!


Ele me falou da pirâmide da codependência:

O DQ, ou simplesmente o "alvo" (quando não envolver DQ) que desejamos "salvar" está no topo da pirâmide Na base temos: de um lado a posição de "perseguição", e do outro a posição de "vítima".

Traduzindo:
- O foco de nossas vidas é salvar o DQ (ou alguém) e vivemos em busca disso, fazemos tudo que nos for possível para tentar salvá-lo. Extrapolamos nossos limites.
Até que conseguimos ajudá-lo. E nos sentimos felizes com isso... Verdadeiras heroínas!
- Contudo, entramos num ciclo de perseguição. Perseguição no sentido de continuar querendo fazer tudo por ele. Não permitimos que eles caminhem com suas próprias pernas.
Até que ele explode, sente-se sufocado.
- E aí nós entramos na posição de vítima. Sofremos com a "falta de reconhecimento" deles.

Os codependentes vivem assim, nesse eterno ciclo. 

Suas frases ainda ecoam dentro de mim. E ele está certo em cada letra do que disse. Minha psicóloga também já me sinalizou isso (de forma mais delicadinha, claro! rsrs).


“...Quando você chegou pela primeira vez em meu consultório você estava um lixo, destruída emocionalmente e fisicamente.  Hoje você é outra mulher, por dentro e por fora. Você amadureceu... Mas está emocionalmente recaída, desde que parou de seguir meus direcionamentos (em dezembro!)...”

“Você não é doente, você está doente. Está deixando a codependência te comandar...”

“...Andei lendo seu blog... Você fala de coisas maravilhosas, mas não pratica nada do que fala... Desligamento emocional... Desligue-se...”

“...A única obrigação que você tem na vida é o seu trabalho, mais nada... Porque o resto do seu tempo você está apenas vivendo para ele... Pare com isso, viva a sua vida...”

“Você está se comportando como mãe dele...”

“Você é bonita, inteligente, independente... Você é muito boa... É a mulher que qualquer homem gostaria de ter... Claro... Você aceita tudo...”

“...E tem mais... Se você resolver terminar com ele, vai arrumar outro igualzinho se não tratar a codependência...”

“Se você fosse uma adicta, seria daquelas mais intensas...” (Isso eu descobri quando fui para a Convenção Carioca de NA, ano passado. Veja na postagem - Mentiras e Verdades -)

Meu amor estava ao meu lado enquanto o terapeuta falava. Ele também levou alguns puxões de orelha, mas o foco da terapia de hoje era eu.

Passei o dia perguntando a mim mesma por que eu não consigo me impor limites. Nunca consegui... Fui permissiva a vida inteira. Permiti que “o mundo” me magoasse e não me defendi. Na minha infância, por volta dos seis anos, quando os meninos mais velhos da rua zombavam de mim, eu desejava que minha irmã me protegesse, afinal ela era mais velha que eu e todos gostavam dela. Mas ela nunca me protegeu... E eu, assustada, fui me trancando dentro de um casulo.

Mas hoje em dia não a culpo por meus traumas. Eu era uma criança e essa foi a forma que arrumei para me defender. O problema é que meu casulo ficou muito bem lacrado, e por isso estou nele até hoje... Tenho medo de sair daqui, penso que estou protegida... Tenho medo do que vou encontrar aqui fora. Mas eu não posso mais viver nesse casulo... O mundo vai muito além dele... Quero dar o primeiro passo...

Silenciei-me o resto do dia... Chorei em alguns momentos. Ele tentou se aproximar várias vezes, mas não consegui acolhê-lo. Permaneci no casulo!

Já de tarde resolvemos ir para a casa da mãe dele, e como a clínica fica no caminho, passamos por lá. É sempre bom passar por lá. Ele adora!

E Deus mandou um anjo para me abraçar... Enquanto meu bem conversava com os outros internos, o ex-namorado de minha amiga, que está internado lá, veio até mim, me abraçou e indagou:

“Estou te achando triste... Você não está bem não é?!”

Não deu para conter as lágrimas...

“Flor, sabia que eu penso em você todos os dias? É que estou lendo um livro seu que ficou aqui... Tem várias anotações e trechos marcados (eu tenho mania de rabiscar meus livros), e suas anotações me ajudam bastante... Você é uma pessoa muito especial... Você é inteligente e bonita, merece ser feliz... Acho que está na hora de você reler esse livro.”

Da última vez que passamos por lá, ele nem se aproximou de mim, estava arredio, envergonhado... Mas hoje houve uma inversão de papéis: a ordem natural das coisas seria eu confortá-lo e encorajá-lo a se reerguer, como sempre faço com os meninos que estão lá, mas foi ele que veio me confortar. E eu não esperava por isso.

Agora é meu momento de decidir: permanecer no casulo ou sair dele.
E eu já decidi.
Não quero mais continuar aqui. Está escuro, frio e me sinto sozinha. Aqui dentro eu vivo num eterno outono. Muito ruim...

Mas confesso que estou cheia de medos. Medo do desconhecido, medo do que é bom... Medo sei lá de que...
Mas não quero mais ter medo.

Torçam por mim. Orem por mim.
Beijos a todos e um excelente domingo!

quinta-feira, 21 de março de 2013

Quero sim!

Eu tô com saudades
Da nossa amizade
Do tempo em que a gente
Amava se ver


Eu não sou palavra
Eu não sou poema
Sou humana pequena
A se arrepender


Às vezes sou dia
Às vezes sou nada
Hoje lágrima caída
Choro pela madrugada


Às vezes sou fada
Às vezes faísca
Tô ligada na tomada
Numa noite mal dormida


Se o teu amor for frágil e não resistir
E essa mágoa então ficar eternamente aqui
Estou de volta a imensidão de um mar
Que é feito de silêncio
Se os teus olhos não refletem mais o nosso amor
E a saudade me seguir pra sempre aonde eu for
Fica claro que tentei lutar por esse sentimento


Diga sim ouça o som
Prove o sabor que tem o meu amor
Cola em mim a tua cor
Eu te quero sim senhor


-----------------------------------------------------------------
Bom dia, flores do dia...
Esta canção embalou meu trajeto para o trabalho!
Paz no coração de cada um de vocês!
Ótimas 24 horas!

Beijos...

terça-feira, 19 de março de 2013

Ando devagar porque já tive pressa...


Oi pessoas!

Tudo em paz comigo, graças ao meu bom Deus...

Minha ausência nesses dias não teve muita relação com o último feito do meu amado. É que preferi me manter um pouco afastada do computador devido às crises de enxaqueca e também porque não queria escrever por impulso.

É fato que aquela noite foi uma noite de cão, óbvio. Eu não esperava e estava numa contagem regressiva para seu primeiro aniversário de vida. Cheia de planos lindos, que se foram ralo abaixo. Fazer o quê?

Depois que ele voltou para casa, um sentimento de inércia me dominou ao longo do dia. Eu cheguei a lhe dizer que não estava sentindo absolutamente nada: raiva, dor, pena, medo, angústia, melancolia, culpa... Nada... Ausência de sentimentos. Parecia que nada iria me fazer sair do eixo, nada me faria voltar atrás sobre a decisão de não aceitar o Outono como única estação da minha vida.

Foi uma sensação estranha, mas ao mesmo tempo foi bom para mim, pois confirmei meu amadurecimento nesse assunto. Claro que doeu, mas o meu sangue estava tão frio que me ajudou a não perder o controle e não deixar minhas emoções me dominarem.
(Coisa rara de acontecer comigo!)

No dia seguinte, permaneci um pouco melancólica, triste, com um vazio dentro do peito. Acho que foi o meu momento de luto. Mas isso passou rapidinho. Afinal, não fui eu quem jogou 11 meses e 23 dias no lixo!

A ficha dele caiu logo que voltou ao estado normal de suas faculdades mentais. Inicialmente manteve-se arredio, na defensiva. Quando percebeu que não tinha escapatória, ele aceitou fazer o que deveria ter feito assim que saiu da clínica: iniciou o pós-tratamento com o terapeuta (e padrinho) dele e com uma psicóloga. Ambos trabalham em conjunto. É um projeto muito bacana, eles tratam o DQ e a família, em sessões ora individuais e ora coletivas. Mas até o momento em que entramos no consultório, ele estava na defensiva. Porém, foi só chegar diante do padrinho que ele adotou a postura submissa, e desnudou-se. Foi ótimo!

“... os usuários começam a ter um desejo quase incontrolável de usar as drogas e, por isso, trabalham engenhosamente para procurar uma nova dose... A serenidade é implodida... mentem para si mesmos e para o mundo que não vão usar drogas, mas no fundo sabem que irão...”
(Augusto Cury)

É bom saber que meu bem respeita seu padrinho, pena que não seguiu seus direcionamentos desde o início. Muita coisa teria sido evitada.

Ao longo desse tempo, algumas vezes eu lhe perguntava: “Por que você não procura por seu padrinho para se aconselhar?”
E ele respondia: “Por que eu sei o que ele vai me pedir para fazer e eu ainda não vou fazer o que ele quer!”

Deu no que deu!

No dia seguinte da sessão, logo cedo, quando saíamos de casa para trabalhar, suas palavras foram: 
“Vou usar isso a nosso favor. Eu sei que vai ser difícil você acreditar, mas tudo vai mudar agora, nossa relação vai mudar, eu vou mudar...”

É... Ele está certo, no momento é meio difícil acreditar... Mas agora só me resta olhar para frente e aguardar. Como eu já mencionei, a minha decisão está tomada: quero uma vida de flores!

Aparentemente, ele parece ter mesmo decidido levantar-se da queda. Espero que sim e que assuma todos os erros.

Ele ainda não foi ao grupo. 
“Estou com vergonha, mas eu vou voltar sim...”

“Faz certo que dá certo” – esse é um dos lemas do NA.


Eu o amo demais, mais até que imaginei amar alguém. E também acredito no seu amor por mim. Contudo, isso não pode me deixar cega. Já me convenci de que a escolha de fazer a coisa certa só pode vir dele.
E o fato de eu amá-lo muito não quer dizer que eu tenha que compactuar com escolhas e atitudes insanas, principalmente se essas escolhas/atitudes me afetarem ou afetarem meus sentimentos. Não posso ser complacente, não posso me permitir a voltar a viver daquela maneira, pois eu sei o quanto me fez mal.

Eu o amo tanto que sou capaz de deixá-lo seguir seu caminho sem mim se um dia eu perceber que é isso que ele prefere.

De agora para frente, ele precisa, mais que nunca, fazer escolhas com sabedoria e buscar por sua recuperação. Mas essa recuperação deve englobar tudo.

“Não é possível vencer as drogas sem ser autênticos, sem ser honestos até as últimas consequências. O primeiro golpe da farmacodependência é aprender a banir a mentira e viver a arte da autenticidade.”
(Augusto Cury)


Estarei ao lado dele enquanto eu acreditar nesse amor, enquanto eu sentir que vale a pena, enquanto existir em mim uma mísera pontinha de esperança. Desejo que isso dure para sempre, pois eu acredito e quero o “para sempre”.

Nosso amor é sagrado e abençoado, estou certa disso. Sempre estive. Deus me deu respostas claras sobre o caminho que eu deveria seguir, mas Deus também me falou que eu não devo seguir sozinha, meu amado precisa estar ao meu lado. Se em algum momento eu perceber que estou sozinha, é a hora de voltar atrás, pois eu posso me perder...
Enquanto eu me sentir confiante de que ele caminhará ao meu lado, lutando por sua recuperação e contando comigo para isso, assim eu farei... Eu seguirei em frente, com minhas mãos unidas às mãos dele.

“... ao invés de criticarmos e marginalizarmos os usuários, deveríamos compreendê-los e acolhê-los com o maior respeito e consideração... É fácil julgá-los e condená-los, mas é difícil colocar-se no lugar deles e perceber as amarras construídas nos bastidores de suas mentes...”
(Augusto Cury)

Certa vez ouvi o Pe. Fábio de Melo falando algo assim. Ele explicava que precisamos aprender e aceitar que as pessoas são diferentes em sentimentos e escolhas, e quando nos permitimos a entrar no tempo do outro, teremos uma compreensão maior da dor e das alegrias dos nossos irmãos.

É isso que eu me propus a fazer quando aceitei viver ao lado dele. Decidi entrar no tempo dele, buscar compreender sua doença e suas angústias. Às vezes meto os pés pelas mãos e deixo a ansiedade me dominar. Mas depois reflito sobre o fato e tento me corrigir.

Todos nós, adictos ou não, temos caminhos longos a percorrer. Todos nós estamos sujeitos a conflitos internos, a fantasmas que nos assombram, a medos e inseguranças. Todos nós erramos e acertamos, e nada disso é problema...

O que precisamos, de fato, é tentar compreender esses tempos diferentes de cada um, principalmente se esse “um” for alguém que amamos muito; se é com esse “um” que desejamos passar o resto de nossas vidas; se estamos certos de que esse “um” é alguém capaz de nos fazer feliz, alguém que estará conosco ‘na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza por todos os dias de nossas vidas’, se esse “um” é capaz de nos compreender e nos aceitar em nossas maiores misérias e mesmo assim permanecer ao nosso lado.

Todo ser humano é frágil, cheio de defeitos, mas também cheio de qualidades. Penso que um DQ para entrar, definitivamente, em recuperação precisa aprender a olhar para si mesmo e aceitar sua fragilidade. Nesse momento ele vai conseguir reconhecer e identificar os seus defeitos, tentar corrigi-los. A partir daí ele começará a descobrir suas qualidades. Depois disso, acho que o DQ é capaz de aprender a entrar no tempo do outro e ver que o mundo não gira ao redor de si mesmo. Ele deixará o egoísmo/egocentrismo um pouco de lado...

Logo que comecei a escrever esse blog, falei que não gostava de contar os dias limpos de meu bem, mas com o tempo isso ficou automático. Agora, pretendo me condicionar a não mais contar esses dias, pelo menos não com tanta ansiedade, pretendo simplesmente deixar acontecer... Deixar a vida seguir seu rumo e as flores voltarem a nascer em nosso jardim.

“Quanto mais tempo um usuário passa sem as drogas, mais ele vai arquivando novas experiências. Em um dia saudável, ele pode arquivar centenas ou milhares de novas experiências, reeditando assim a sua história...”
(Augusto Cury)

Fiquem com Deus e tenham lindas próximas 24 horas...
Beijo grande!

quarta-feira, 13 de março de 2013

12 de Março!

12 de Março de 2012
Essa data me trouxe dor e lágrimas...
Foi quando meu amado permitiu que seu bote afundasse de vez em alto mar, e eu, na tentativa de salvá-lo de um afogamento, quase me afoguei junto... Foi nesse dia que percebi que se eu não o soltasse iria morrer junto com ele.


12 de Março de 2013
Limpo há 356 dias...
Mas ontem ele me deu uma noite de outono!
Escolhas...
A DQ é assim... Cruel!



Mas agora não adianta chorar pelo leite derramado.
Escolhas...
Agora o que temos a fazer é decidir o que fazer: Entregar-se a derrota e voltar ao fundo do poço, ou... Procurar e assumir os erros, levantar da queda e seguir em frente.


A minha escolha eu já fiz.
Não volto a viver apenas nos dias de Outono...
Aceito o Outono se ele for parte do ciclo da vida, se ele estiver preparando a primavera, mas não o aceito como única estação da minha vida!


Leia o post Recaída que você vai entender a minha concepção sobre esse fato.



Beijos a todos é ótimas próximas 24h!


terça-feira, 12 de março de 2013

Graziela...


Não sei se ele percebeu que eu estava chorando... Eu estava virada na cama, meio que de costas para ele, mas não sei se deu para disfarçar. Penso que não.  Meus últimos dias foram de fragilidade (TPM!), e eu estou numa fase chorona.
Muito se falou nessa semana que passou sobre a morte do Chorão, e no último domingo o ‘Fantástico’ fez uma reportagem grande com a (ex) esposa dele, Graziela Gonçalves.

E foi nesse momento que eu chorei...

Essas foram algumas das palavras dela, que disse ter perdido a luta contra as drogas.

“Eu tentei tudo que vocês podem imaginar, mas infelizmente essa praga mundial que é essa droga, que está acabando com tudo, ganhou. Eu espero que outras famílias e outras pessoas não passem por isso que eu estou passando, eu os familiares todos, o filho dele, a mãe, os irmãos, os amigos.”

Infelizmente sabemos que muitas famílias ainda sentirão essa dor.

Não é justo dizer que ela desistiu... Não é justo apontar o dedo e dizer que ela abandonou o barco... Não é justo dizer que ele usou até morrer porque estava deprimido por ela tê-lo deixado... Não é justo julgá-la... Ela simplesmente percebeu que não podia fazer mais nada e foi lutar pela vida dela.

"Nós estávamos afastados em razão do que estava acontecendo com ele, na verdade eu estava tentando trazer ele de volta. Toda mulher sabe que às vezes uma separação nada mais é do que uma artimanha, uma arma que a mulher se utiliza para fazer uma chantagem emocional. Mas infelizmente eu perdi a guerra”.

E ela, assim como nós, também cometeu erros típicos da codependência.

“Às vezes, eu tinha de pegar pesado, eu falava ‘Alexandre, não vou aguentar isso’, porque é muito difícil você ter uma convivência... No final (do casamento), ele usava dentro de casa. No meu pensamento eu preferia ele em casa do que longe, mas a partir de um determinado momento ele passou a sair para usar, para eu não ver e não brigar com ele.”

Ela está carregando nos ombros uma culpa que não lhe pertence:
“Eu sinto que falhei. Eu me pergunto, por que eu não lutei no dia seguinte? Mas eu sou um ser humano, também. Achei que teria outra chance, mas não tive.”

Imagino como ela deve estar se sentido sozinha. Se nós, “pessoas normais”, já temos uma dificuldade enorme de encontrar um ombro amigo que não nos julgue, que apenas nos compreenda e partilhe nossa dor, imagine para ela. Ela era esposa de uma personalidade, um cantor famoso, ou seja, mais difícil partilhar, tentar uma atitude, participar de grupos de apoio, sei lá...

Assim como, se é difícil para nossos adictos dar o passo inicial para sua recuperação, pense em como deve ser ainda mais complicado para alguém famoso, que vive na mídia, exposto a festas, shows, eventos e situações onde é comum encontrar farturas de bebidas e drogas. Imagine como seria para essas personalidades chegar a um lugar desses e dizer:

“Não bebo! Obrigado!” ou “Não... Não estou cheirando mais, cheguei ao meu fundo de poço e descobri que sou DQ!”

Não seria nada simples...
Assumir a adicção perante o público e fãs deve ser como assumir-se fracassado. A sociedade não consegue compreender que fracassada será a pessoa que insistir em continuar nessa vida. Ninguém, além daqueles que convivem de perto com a situação, os enxerga como doentes. A dependência química está associada à marginalidade... A sociedade aceita, e de certa forma impõe, o uso de drogas e bebidas nos eventos sociais, mas não sabe lidar com a situação quando se depara com ela. Eu também aceitava, até descobrir a dimensão da coisa.

Um filme passou diante de meus olhos...
Impossível não lembrar de todo aquele sofrimento vivido por mim e por tantas outras de nós.
Impossível não recordar de outubro de 2011, quando eu, juntamente com a mãe dele, e apoiadas pela irmã, também o internaríamos compulsoriamente. Mas, nos minutos que antecederam à chegada do resgate, nós desistimos, na esperança de que dessa vez ele iria se tratar por vontade própria. Doce ilusão!
Lembro-me das palavras do psiquiatra quando liguei avisando que havíamos resolvido dar mais uma chance:

“Olha... A decisão é sua, não posso te obrigar a interná-lo, mas, infelizmente, tenho certeza de que você está ‘enxugando gelo’!”

Ele estava certo, claro!

Impossível não recordar também, daquele dia 13 de março de 2012, quando EU quase morri afogada ao tentar salvá-lo. E também daquela tarde de 21 de março de 2012, quando o deixei no centro terapêutico, já sem forças, sem esperanças, sem sonhos... Eu havia rompido com ele na semana anterior.

Ambos estávamos destruídos por dentro e por fora. Ele, pelo uso compulsivo de sua droga de escolha, e eu, por ter me afundado na codependência...
Muito sofrimento!

Porém, não fui capaz de não me envolver com a sua internação. Percebi que eu era a única pessoa próxima a ele capaz de ‘fazer o certo’ naquele momento. Não sei de onde tirei forças. Não sei como consegui ser racional (sempre fui passional além da conta). Talvez por eu estar com muita raiva dele pelo que ele havia feito. Talvez por Deus estar segurando minhas mãos. Não sei!

Só sei que consegui manter o sangue frio e fiz o que eu deveria fazer!

Não olhei para trás quando o portão se fechou...

O mais patético é saber que muitas pessoas, realmente, achavam que ela estava exagerando ao pensar em interná-lo a força!
Eu não consegui não chorar ao vê-la falar. Senti a dor dela.

“Essa droga, ela tem uma capacidade... Parece que a pessoa está possuída. O corpo é o mesmo, mas parece que tem outro ser ali. As reações são outras, o jeito é outro, o olhar é outro. É ruim.”

A dependência química transforma a pessoa em alguém desconhecido a todos nós... É horrível...

Se eu pudesse, eu a abraçaria e diria apenas: “Estamos juntas!”


356 dias limpo!

Ontem, ao chegar do trabalho, nós ficamos deitadinhos no sofá assistindo juntos a um filme. O mundo parecia ter parado... Nada mais importava.
O telefone dele chegou a tocar, era o outro veterinário chamando-o para uma emergência.
“Agora não... Estou aqui com minha mulher vendo um filme... Minha prioridade é essa agora... Quando acabar aqui, eu passo aí.”

Meu coração sorriu!

Quando fomos dormir. Olhei para ele... Estávamos abraçados... Falei:
“Nada no mundo consegue pagar isso! Nunca!”
“Eu te amo!”

A gente não pode salvar o nosso DQ...
Então vamos fazer o que é possível a nós: Entregar e orar!

Fiquem com Deus! Fiquem em paz!

Boa tarde, pessoas...

sexta-feira, 8 de março de 2013

Lágrimas...

Ele conseguiu...

Ele me fez chorar, não consegui me conter. Foi mais forte que eu!
Senti vergonha, pois havia muita gente perto, mas não deu para segurar...

Hoje é um dia dedicado a nós mulheres, que somos, ao mesmo tempo, fortes e frágeis. Mulheres que lutam até o fim, que não desistem, que tem fé, que amam, que choram e que sorriem.

Talvez por isso eu tenha acordado com um humor mais rico hoje. Eu saí de casa super feliz e bem disposta, mesmo tendo dormido mal...
Sim hoje é um dia dedicado às mulheres. E somos merecedoras!

Não imaginei que iria chorar...
E ele me fez chorar.


Mas dessa vez foi bem diferente!

Eu estava cumprindo uma agenda no trabalho, em outra sala e meu celular começou a tocar insistentemente com um número que eu desconhecia. Ignorei! Eu estava ocupada!

Minutos depois uma colega de equipe também começou a me ligar por várias vezes. Não entendi os motivos, pois ela sabia que eu estava bem ocupada! Ignorei de novo! 
Mas ela insistiu tanto que acabei atendendo:
"Chega aqui na sala. Preciso falar com você..."

Achei esquisito. Ela sabia que eu estava resolvendo algo importante. Encerrei o assunto que eu estava tratando, subi as escadas e entrei na sala...

...


Havia um lindo buquê de flores para mim com os seguintes dizeres no cartão:

"Que nossa vida seja linda e perfumada como essas flores. Te amo muito!"

Chorei!
Sim, meu amor me fez chorar... 
Meu corpo estremeceu todo...
Como eu disse no post de ontem, ele está aprendendo a cuidar de mim!

Faltam 13 dias para ele completar UM ANO DE VIDA!

Eu estou certa do quanto o amo, do quando nossa história é linda, do quanto Deus cuidou do nosso caminho...

Foi a primeira vez na minha vida que recebi flores nesse dia...

Agradeci a Deus por nossa paz!

É isso, minha gente. Eu precisava vir aqui e contar para vocês, e dizer que pela manhã, quando me dirigia ao trabalho, orei por nós, codependentes...
Deus está cuidando da gente!


Desejo muitas flores lindas na vida de minhas companheiras de blog. Desejo perfumes e sonhos. Desejo que aprendam a ver com os olhos do coração sem se permitir o engano da alma...
Desejo luz!

Parabéns a todas às mulheres, que matam um leão por dia...
Beijos!

quinta-feira, 7 de março de 2013

Aprisionamentos e Liberdade

Oi pessoal! Boa noite... Desejo uma noite abençoada e de paz ao seu coração!

Mesmo que estejamos vivendo momentos extremamente turbulentos, mesmo que nosso DQ tenha voltado a ativa, mesmo que nosso coração esteja ferido, por quaisquer que sejam os motivos, é necessário orar com muita fé a Oração da Serenidade, pedindo à Deus que nos dê a sabedoria que precisamos para lidar com as dificuldades da vida.

"Deus, conceda-me serenidade para aceitar as coisas que não posso modificar.
Coragem para modificar aquelas que posso...
E sabedoria para reconhecer a diferença!"

Uma oração pequena na extensão, mas enorme na profundidade das palavras!
Repita-a quantas vezes sentir vontade ao longo do seu dia. Repita-a como se fosse um mantra! Deus está lhe escutando, acredite nisso!

Aqui estamos em paz! Graças a Deus...
Dentro de 14 dias meu amado completa 1 ano limpo! Nossa, como tenho a agradecer a Deus!

Só por hoje ele está com 351 dias de sobriedade! 351 dias de vida!

Só por hoje ele está aprendendo a viver uma nova vida. Só por hoje ele valoriza seu trabalho, valoriza uma vida a dois, valoriza a família. Só por hoje ele está aprendendo a pensar no outro. Ele se preocupa em saber como estão seus sobrinhos. Só por hoje ele tem amigos de verdade. Só por hoje ele não tem mais pesadelos. E eu não tremo mais quando ele não atende o celular. Só por hoje minhas orações são de paz. Só por hoje sei que ele vai chegar em casa feliz. Só por hoje ele me ama de verdade. Só por hoje temos dias de primavera. Só por hoje ele decidiu manter-se limpo e sereno.
Só por hoje!!!

Às vezes ainda sou surpreendida com lembranças ruins de um passado que passou, mas que , infelizmente, deixou marcas. Essas marcas não movem minha vida, não possuem um papel de protagonistas na minha história. Graças a Deus!
Na verdade, acho que ter essas lembranças é até natural, foi tudo muito pesado. Mas elas já não me causam dor, não me causam medo, não me deixam insegura pensando que posso reviver cada um daqueles dias de outono.
Superei...
Eu jamais seria feliz se deixasse essas marcas transformarem minha vida num eterno outono.

O outono foi necessário para meu crescimento. É claro que preferiria não ter passado por ele, mas já que ele veio, tive que tirar dele o melhor que pude! Foi ele que fez minhas flores nascerem mais perfumadas e coloridas!
Deus  é muito perfeito!

"Não perca de vista a primavera que o outono prepara..."
(Pe. Fábio de Melo)


As lembranças estão aqui dentro de mim. Todas elas. Mesmo aquelas que nasceram na minha infância. Ainda não tenho serenidade suficiente para ignorá-las.
Vivi momentos que me machucaram a ponto de me conduzirem a um estado emocional bastante fragilizado.
Ainda sou prisioneira das minhas emoções.

Mas o meu amor está aprendendo a cuidar de mim. Está aprendendo a identificar meus momentos de medo. Está aprendendo a me acalmar... Ele ainda tropeça um pouco pelo caminho, mas meu amor está aprendendo a ser mais meu amor!
Não conseguimos mais imaginar nossas vidas sem o outro! Nossos caminhos estão pareados!

Estou dando passos... Passos para a minha liberdade... Já não sinto mais culpa por erros que não cometi. Ela já não me atormenta, já não pesa sobre meus ombros. E isso me deixa muito feliz!
Em 'doses homeopáticas' vou curando minhas feridas!

O caminho é longo e muito difícil. Mas não vou desistir...
Assim como é difícil para os DQ's tomarem a decisão de parar de usar, é difícil para quem está preso a emoções e sentimentos se libertar daquilo que o aprisionou.

Augusto Cury fala de um fenômeno chamado de "Autochecagem da Memória", na qual estímulos psíquicos, visuais e sonoros geram um gatilho que produz as primeiras reações, pensamentos e emoções nas mais diversas situações cotidianas.

"... A angústia e a indignação inicial quando alguém nos ofende ou nos rejeita não foram programadas pelo eu, mas foram geradas pelo gatilho da memória. Notem que não teríamos determinadas reações instantâneas de agressividade e impulsividade se pudéssemos controlá-las. O fenômeno do gatilho da memória desencadeia as primeiras reações nas relações sociais...
... Aprender a reescrever a história e a gerenciar a tensão produzida pelo gatilho da memória é o grande desafio terapêutico na resolução do cárcere da dependência e dos demais transtornos ansiosos, como a síndrome do pânico e as obsessões..."

"... Se fizermos uma varredura em nosso passado verificaremos que temos mais facilidade de recordar as experiências mais frustrantes ou mais alegres. Elas foram registradas em áreas importantes da memória, o que as torna disponíveis para ser lidas e utilizadas na construção de novas cadeias de pensamentos e de novas emoções..."

(Me identifico com esses trechos!)

Enfim...
Minha felicidade depende apenas de mim mesma. Somente sou capaz de modificar minhas emoções e me libertar... E é para isso que estou lutando a cada dia...
Venci batalhas piores, mais difíceis... Vencerei essa também.
Minha liberdade está em minhas mãos!

Caminhando e cantando vou seguindo a canção e refazendo minha história para colher flores cada vez mais perfumadas e coloridas!

Fiquem em paz e na presença de Deus!
Beijos e bom restinho de semana...