quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Contrários


Boa tarde e uma ótima quinta-feira a todos!

Quando estivemos no RJ para a convenção de NA, pude perceber que eu, na minha infância e adolescência, era uma presa fácil para cair no mundo da drogas.
Por muito tempo vivi centrada em minhas dúvidas, frustrações, medos, falta de aceitação, sentimentos depressivos e de vazio, enfim... Todos aqueles sentimentos que levaram os adictos a desenvolverem a doença.
Ao ouvir os depoimentos, principalmente das mulheres, eu era capaz de me identificar em muitas falas, em muitas situações.
Agradeci a Deus por não ter acontecido comigo.
Meu amor chegou a comentar “Para você, seria uma fuga e tanto...”

Ainda não sou capaz de perceber os motivos pelo qual alguns, como eu, não trilham por esse caminho, mesmo com todas os sentimentos favoráveis a isso, e outros, como meu amor, acabam fazendo essa escolha.
Eu sempre fui muito medrosa, e ainda sou. Tenho medos simples, como de escuro, de barata, de atravessar a rua, de me perder; e tenho medos grandiosos, como de perder alguém que amo, de ser vítima de violência e de acidentes.
Mas já tive medo de não ser aceita, de não ser amada, de ser infeliz, de ser chata, feia, burra, e outras coisas assim.
Talvez o medo tenha sido um grande aliado meu, pois, apesar das várias chances que tive de experimentar cocaína na juventude, sempre tive medo dela, medo de gostar!

Após sete anos de terapia, estou aprendendo a lidar com esse turbilhão de pensamentos errados que giravam na minha cabeça e criavam milhares de conflitos internos. Muita coisa já melhorou dentro de mim, sinto-me bem mais madura. E não permito mais que a falta de amor próprio seja minha melhor amiga.
Antes tarde do que nunca!

Eu nunca me imaginei vivendo ao lado de um DQ ou um alcoólatra, na verdade, eu não imaginava nem a profundidade desse problema. Acho até que, como a maioria das pessoas, não pensava no assunto, pois eu não tinha nada com isso!

Sofri muito na fase ativa do meu amado, pois descobri minha impotência perante esse inferno. Mas vê-lo lutando e buscando ficar bem a cada dia me dá forças para aceitar suas limitações e lutar junto com ele.
Lembro-me de que quando nos conhecemos, há anos atrás, quando só tínhamos um singelo “casinho”, e eu achava que ele apenas fumava maconha e cheirava de vez em quando, mas que não era nada grave; eu cheguei a pensar “talvez, se ele começar a gostar de mim de verdade, ele pare com isso”.
Eu desejava que ele gostasse de mim, pois sempre foi divertido estar com ele, eu me sentia bem, mesmo sem maiores envolvimentos.

O terapeuta da clínica, outro dia, disse uma frase clássica: “Parar de usar drogas é muito fácil. É só você mudar sua vida toda!”

Hoje sou capaz de compreender que ele não tem que parar por mim. Ele tem que parar por ele mesmo. Por perceber o que a droga foi capaz de fazer com sua vida, e até onde ela foi capaz de levá-lo.

Mas veja bem, Padre Fábio de Melo, no programa de ontem, falou, de forma muito sábia, que “renovar o sentido da vida, carece olhar as pessoas que estão ao nosso redor”. E ele citou como exemplo, justamente os alcoólatras e dependentes químicos. Que, ao ter a real noção do sofrimento que está causando a quem o cerca, o usuário pode sentir-se motivado a mudar de postura por amor. Ele pode ser capaz de mudar suas escolhas ao descobrir que existe alguém que o ama, e assim ele também aprende a amar.

“Sabemos que amamos quando somos capazes de mudar posturas por aqueles que amamos”.

Ele iniciou o programa dizendo que precisamos desenvolver a capacidade de fazer a leitura do avesso das pessoas e das situações. Que isso nos levará a uma melhor compreensão dos momentos que estamos vivendo. E que quando conseguimos identificar as situações inadequadas em que colocamos a nossa vida, daremos início a um processo de transformação.

“A vida é muito mais bonita quando superamos nossas mentiras e infidelidades”

Ele falou também sobre o significado exato do perdão.
“Perdão é querer bem”.
Algumas vezes é bom nos perguntarmos por que certas coisas nos magoaram tanto, isso nos ajuda a superar e a encontrar um sentido.
A chave para o perdão está em descobrir o quanto se ama. Ou seja, quanto maior o laço com a pessoa que precisamos perdoar, mais fácil é, pois maior é a necessidade de superar e esquecer. Quando não há laços, as coisas ficam mais complicadas.

Pessoas como os alcoólatras e usuários de drogas ilícitas precisam encontrar um sentido para renovar sua vida. Eles precisam descobrir o caminho do amor, do perdão, do renascimento. E nós precisamos aprender a olhar o avesso deles.

Que venha a nova vida... Cheia de novas flores...

Meu amor chega daqui a pouquinho do Pico da Bandeira. Estou com saudades... 

Contrários
(Pe. Fábio de Melo)

Só quem já provou a dor
Quem sofreu, se amargurou
Viu a cruz e a vida em tons reais

Quem no certo procurou
Mas no errado se perdeu
Precisou saber recomeçar

Só quem já perdeu na vida sabe o que é ganhar
Porque encontrou na derrota algum motivo para lutar

E assim viu no outono a primavera
Descobriu que é no conflito que a vida faz crescer

Que o verso tem reverso
Que o direito tem o avesso
Que o de graça tem seu preço
Que a vida tem contrários
E a saudade é um lugar
Que só chega quem amou
E o ódio é uma forma tão estranha de amar

Que o perto tem distâncias

E o esquerdo tem direito
Que a resposta tem pergunta
E o problema, a solução
E o amor começa aqui
No contrário que há em mim
E a sombra só existe quando brilha alguma luz.

Só quem soube duvidar

Pôde enfim acreditar
Viu sem ver e amou sem aprisionar

Quem no pouco se encontrou

Aprendeu multiplicar
Descobriu o dom de eternizar

Só quem perdoou na vida sabe o que é amar
Porque aprendeu que o amor só é amor
Se já provou alguma dor
E assim viu grandeza na miséria
Descobriu que é no limite
Que o amor pode nascer 


domingo, 26 de agosto de 2012

Brincando de casinha

As coisas começaram a caminhar...
Os móveis já foram entregues no apartamento, apesar da obra ainda não ter acabado na sala por causa do fechamento de varanda. Sendo assim, algumas coisas ainda permaneceram encaixotadas.
Mas já já vai ficar com carinha de "lar"!

Meu amor veio para minha casa nesse fim de semana. Eu trabalhei no sábado pela manhã e depois fui buscá-lo no terminal rodoviário.

Minha mãe me perguntou outro dia se eu não tenho medo dele voltar para as drogas... Disse a ela que não tenho medo nenhum, que estamos em paz.
E depois pensei sobre isso.
Estou tão calma! Aquela agonia que eu vivia, definitivamente não tem vindo mais me visitar. Não tenho dado oportunidade a ela. Meu amor tem me passado segurança e força. Ele está caminhando muito bem no tratamento. E parece não se incomodar quando digo que sei que em alguns momentos a insegurança vai chegar, ao contrário, ele demonstra estar muito compreensível quanto a isso.

Mas como sempre dizemos um ao outro: O TRATAMENTO VAI COMEÇAR DE VERDADE AQUI FORA!
Bem vindo ao  mundo real, meu amor...

Ainda não parei para me preocupar e sofrer com os momentos difíceis que vamos passar, tanto com relação a sua adicção, quanto com relação a nossa vida a dois. Ambas são grandes e complicadas novidades em minha vida.
Quero viver como ele...
Só por hoje está tudo bem, só por hoje estamos felizes, só por hoje deu tudo certo.
Talvez assim seja mais fácil para eu lidar com tais momentos difíceis, e assim eles não sejam tão difíceis...

Eu e meu bem ficamos arrumando e limpando algumas coisas no sábado. É claro que ele não tinha muita paciência para colocar as coisas no lugar.
"Para que limpar isso agora se ainda tem coisa para terminar na sala?"
Cheguei a ficar chateada com isso, mas preferi manter-me em silêncio e deixá-lo perceber sozinho que estava errado. E quando ele chegou a essa conclusão, eu disse apenas que as coisas não podem ser sempre na hora e da forma que ele quer.

Outro dia ele falou:
"Às vezes eu fico triste por não ter te amado antes... Mas, sei lá... Talvez não fosse a hora ainda, não sei... O que eu sei é que agora eu te amo de verdade... Quero viver ao seu lado".

Hoje cedo eu saí para fazer uma prova e ele foi à reunião, minha mãe o deixou lá. Sinto-me tão aliviada ao ver os dois convivendo bem, e percebo que ele também sente-se como se tivesse tirado um peso das costas. É como se estivesse começando o passo das reparações!
Imagino que tudo seja muito difícil para ele.

A minha mãe já aceitou completamente nossa relação, e arrisco-me a dizer até que ela está feliz com nossa vida conjugal que está começando.

Ele encontrou com alguns amigos na reunião e combinaram sobre a viagem de amanhã cedo para o Pico da Bandeira. Imagino o frio que irão passar naquele lugar...
"É uma terapia!"
rsrsrs

Comentou que ficou feliz na reunião, pois dois amigos queridos trocaram de ficha. Um completou três anos limpo e o outro nove meses.
Meu amor não perde mais tempo com os exemplos que não deram certo. Ele se concentra em quem está bem e feliz!

No último dia 24 de agosto completou um ano após sua primeira recaída depois que ele saiu da fazenda em que estava internado. Lembro-me como se tivesse acabado de acontecer, foi horrível. Senti meu chão faltar pela primeira vez. Quando olho para trás e vejo o homem que estava comigo ontem, e o que está comigo hoje, percebo o quanto eu estava infeliz ontem, e o quanto estou feliz hoje.
Naquela época eu não sabia onde estava me metendo, mas hoje eu sei, e estou consciente das minhas escolhas.

Tivemos um dia simples em família, com almoço em casa e outra ida ao apartamento para deixar mais algumas coisas.

Falta pouco menos de um mês para a vida começar, para a primavera chegar, para as flores nascerem...
O tempo do outono chuvoso está passando. A minha tão sonhada primavera está vindo...

Boa semana a todos!

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Só por hoje, funciona...

Oi pessoal, boa noite!

Muita correria nesses últimos dias.
Trabalho, curso, estagiários, obra do apartamento que não acaba, revisão do carro, ansiedade para a mudança e para o encontro do fim de semana com meu amor, ixi...
Amanhã vai ser a entrega dos móveis, espero que dê tudo certo.

Tá um friozinho gostoso aqui. Faz tempo que não temos um tempo assim.
Adoraria ter meu bem aqui juntinho de mim para me abraçar. Nesse clima, só dá vontade de ficar embaixo das cobertas vendo TV e tomando chocolate quente!

Hoje, como é quinta-feira, nos falamos por telefone.
"Estou com tanta saudade"

Na próxima semana, meu amor, junto com outros internos, alguns ex-internos e o terapeuta, irão para uma terapia lá no Pico da Bandeira.
Como eu já disse, o tratamento lá é bem diferenciado, envolve muitas dinâmicas e com enfoque na terapia comportamental, objetivando descobrir a causa da adicção.

http://www.lighthouse-es.com/site/

(Detalhe: a foto 17 mostra o local onde ele me pediu em namoro!)

Ele está numa fase de dedicar-se ainda mais ao tratamento, pois só restam quatro semanas para sua alta. Ele está feliz e ciente de que o tratamento dele vai começar de verdade quando sair de lá.
Amanhã não poderei buscá-lo na clínica, então ele vai para a casa da mãe dele, e virá para minha casa no sábado pela manhã.
Fico feliz comigo mesma, pois essas idas e vindas dele sozinho por aí não me assustam mais, não fico me remoendo em pensamentos mirabolantes se ele chegará ou não.
Sinto-me confiante e forte para compreender que eu jamais conseguirei fazer com que ele não use drogas. Se essa for a escolha dele, só me resta aceitar.

Vi hoje no blog da Poly que ela passou por um dia difícil essa semana, mas graças a Deus tudo acabou bem.
Sei que esses dias difíceis virão para mim também, e preciso me preparar para eles, principalmente porque teremos uma vida a dois.
O diálogo é um grande aliado nosso, mas sei que em alguns momentos meu bem vai ficar ansioso e preferir conversar com quem vive as mesmas angústias que ele.
Enfim...
Só por hoje ele está bem, só por hoje nós estamos bem e felizes!
E isso é o que importa.


Segue abaixo uma postagem de um adicto em recuperação em seu blog onde ele fala dessas fases complicadas do processo.
Ele está limpo há 17 anos!


"ESTOU RECAÍDO...."

"Ao intitular este Post de "ESTOU RECAÍDO", subtende-se que, por ser eu um adicto em recuperação, tenha voltado a usar drogas novamente. Graças ao meu PODER SUPERIOR, isto não aconteceu.
Mas, quando eu disse "ESTOU RECAÍDO", não menti. Realmente estou recaído, tanto Espiritualmente, quanto emocionalmente. E, por ser a Dependência Química uma doença de ordem biopsicosocioespiritual, meu tratamento faço nesta tese. Estou tentando me recuperar, também, biopsicosocioespiritualmente. Sem falar que tenho comorbidades e me submeto a tratamentos constantemente.
Um outro aspecto que me refiro ao termo "estou recaído", é mesmo ligado à minha adicção. Entendo que a recaída não começa na 1ª Dose, como costumo escutar. Para mim, a recaída termina na 1ª Dose. Eu entendo que a recaída começa Espiritualmente, pois, quem está com sua base Espiritual alicerçada, certamente não se abala com nada. A Espiritualidade é a mais forte e segura estrutura do ser humano. Porém, qualquer recaída Espiritual, logo pode-se sentir um outro abalo na estrutura emocional. É neste momento que uma de minhas comorbidades me leva ao isolamento, me tira as alegrias de viver, me deprime e, algumas vezes, do nada, me deixa totalmente eufórico, elétrico, com tantas empolgações, que planejo mil e duas coisas ao mesmo tempo. É aí que logo percebo que já estou com as insanidades de um adicto na ativa e que também recaí psicologicamente.
Pronto! Recaído Espiritualmente, Emocionalmente e Psicologicamente.... Só falta mesmo a recaída Física (Bio), que é justamente a 1ª Dose.
Ainda bem que tenho um "piloto automático" que logo me diz que estou no caminho errado. Ainda bem que, mesmo recaído Espiritualmente, Emocionalmente e Psicologicamente, e com todas as insanidades e comorbidades, eu não consumei a recaída no sentido de voltar ao uso de drogas.
Mas eu preciso admitir que a minha vida está sem controle em alguns (ou vários) aspectos; tenho que admitir que preciso de ajuda; que só um PODER SUPERIOR pode devolver-me a sanidade; tenho que reconhecer que sou um adicto em recuperação e que meu dia Limpo é um MILAGRE....um VERDADEIRO MILAGRE!
SÓ POR HOJE , eu não usei drogas!
SÓ POR HOJE - FUNCIONA!"



Saúde e paz a todos!

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Co-dependência

"Com uma baixa auto-estima, os co-dependentes vivem em função dos outros, a quem querem controlar. O poder de dominar é a essência.
Tudo isso para buscar reconhecimento e compensar a falta de amor próprio.

Emocionalmente dependentes de alguém, não conhecem a sua realidade, não conseguem estabelecer os seus limites e perdem totalmente a sua identidade, já que passam a viver a vida do outro. Isso vai desde a maneira de controlar a sua vida, os seus pensamentos e até os seus comportamentos.

O co-dependente acredita que é responsável pela felicidade e necessidade dos outros.
Vive uma vida de ilusão, de sofrimento, ansiedade e angústia. Nada está bom para ele, e por mais que conquiste algo de bom, sempre tem uma sensação de vazio, de que está faltando uma coisa em sua vida. Essa 'falta' é uma  das suas características em uma vida pontuada de extremos.

Em um dado momento sente-se o grande salvador do mundo, disposto a resolver os problemas de alguém. Por esse motivo, está sempre invadindo a vida alheia com suas orientações e conselhos, que, na verdade, passam a ser imposições.
No outro extremo, quando as coisas não saem como deseja, torna-se uma grande vítima.

Desconhece os seus sentimentos, sacrifica-se pelo outro, sempre dizendo não para si mesmo e deixando de controlar a sua própria vida. Sente-se mal quando percebe sua impotência para controlar ou mudar uma outra pessoa. Um sentimento de fracasso toma conta de si. Tem muito medo de ficar sozinho, medo da rejeição, do abandono, e por isso abre mão de tudo, de uma maneira distorcida e inadequada, para que essas situações não venham a acontecer.
Quer que as coisas se resolvam à sua maneira, e muitas vezes não é capaz de perceber que os desejos e os sonhos não são mais seus, e sim da pessoa a quem está tentando controlar.
A realidade é tão distorcida que, dentro da sua ilusão, acredita que a sua felicidade depende dos outros. Torna-se um escravo emocional da outra pessoa.
...
Quando há um envolvimento com um dependente químico, as coisas se complicam. Se compararmos a co-dependência com a dependência química vamos perceber a semelhança entre elas.
Ambas são doenças de negação. Sintomas como a raiva, a angústia, a depressão e o desespero são os mesmos.

O dependente químico luta para tentar controlar o uso de drogas, e o co-dependente luta para tentar controlar o dependente químico. Em ambos os casos os resultados são desastrosos, portanto a progressividade tanto da dependência química, quanto da co-dependência caminham lado a lado.
A negação é o grande obstáculo para um tratamento em qualquer uma das duas situações. É difícil para um co-dependente reconhecer que precisa mudar o seu modo de vida. Do mesmo modo, um dependente químico também é resistente a mudanças.

Tanto um quanto outro só irão administrar com mais qualidade suas vidas quando admitirem o sofrimento que a doença provoca. Antes disso, jamais serão capazes de perceber o grau de destruição provocado. Sendo assim, é fundamental que, além do dependente químico estar em tratamento, os seus familiares também se tratem da sua co-dependência.
...
Falar em "cura", tanto na dependência, quanto na co-dependência, é algo complicado. Aqui, o "curar" significa reconhecer, admitir, e aceitar a doença, e a partir daí, dar início às mudanças no modo de viver, dar qualidade à vida, vivenciar a realidade e não insistir em uma existência baseada na ilusão. Passar a controlar o que se pode controlar, que é a própria vida. Viver uma relação funcional, buscando o equilíbrio físico, espiritual e emocional, a auto-estima, o amor próprio, e com isso melhorar o relacionamento com os outros e consigo mesmo.

Em co-dependência, CURAR significa viver a vida, descobrir o seu sentido e amá-la."

Certa vez recebi esse texto, mas não é mencionado a fonte nem o autor...
Mas é de grande importância para todos.

Meu amor completa hoje 5 meses e 3 dias limpo! mas o que importa é o dia de HOJE!

E eu sigo minha vida, caminhando e buscando conhecer-me mais e mais...

Um grande beijo!

domingo, 19 de agosto de 2012

Milagres

Boa noite...
Domingo!

Cheguei da casa do meu amor no início da noite e a saudade já está batendo. Saí de lá cedo pois moramos a cerca de 50Km de distância e não gosto de pegar a estrada à noite sozinha.
O fim de semana foi maravilhoso.

Como tem sido sempre ultimamente, conseguimos conversar bastante, inclusive sobre alguns medo que certamente virão quando ele sair da instituição. Meu amor falou várias vezes que tem consciência de que está apenas fazendo um pré-tratamento lá na clínica, e que a vida vai mesmo começar quando ele receber alta. É aí que começará o verdadeiro tratamento.
Ele sabe que terá que lidar com "NÃOs", com "frustrações", com "decepções", com a "vida real", e etc...

Eu o busquei na clínica na sexta-feira à tarde, e à noite ele foi para a reunião do NA. É tão bom vê-lo dedicar-se ao tratamento. É impressionante como a postura do DQ muda quando eles assumem que são impotentes perante a droga e resolvem dar o braço a torcer nas suas escolhas.

Fico um pouco triste em saber que as pessoas que me rodeiam (e que sabem da nossa situação) não conheceram meu bem antes, no período de sua adicção ativa (mesmo porque, eu escondia), pois elas não serão capazes de perceber essas mudanças. Tenho certeza de que ficariam tão felizes por ele quanto eu estou.
A forma dele falar é outra, a forma dele andar ao meu lado é outra, dele acordar ao meu lado, dele dizer que me ama, dele se arrumar para sair, dele dirigir, dele falar ao telefone, dele se lembrar que eu também gosto de chocolate... TUDO mudou...
Ou melhor, quase tudo, ele ainda continua bagunceiro! rs

Ontem teve um momento de espiritualidade lá no Centro Terapêutico e foi avisado aos internos que estão na re-inserção que eles deveriam comparecer. Fomos para lá após o almoço.
É impressionante como o clima naquele lugar é leve. Não há imposições, não há negações, o verbo "NÃO PODE" passa longe. Lá tem até uma cachorrinha que eles acharam na rua e levaram para lá. Meu querido disse certa vez que ela também é uma terapia!
As pessoas demonstram amor.
O terapeuta e o dono da clínica estão sempre em busca daquilo que há de mais atual no assunto "dependência química".
Quando meu bem me conta algumas de suas atividades terapêuticas eu fico me perguntando o significado. Mas como cheguei a fazer algumas seções com ele também, só afirmo que as metodologias dele funcionam!

Voltando a espiritualidade de ontem...
Foi um momento bem bonito e emocionante. Havia algumas pessoas de fora.
Ele foi contando sobre como funciona o tratamento. Disse que seu interesse não é apenas fazer o interno parar de usar, e sim descobrir as causas que levaram o indivíduo a começar o uso das drogas, a origem da adicção.
Falou sobre sua história de vida (ele também é adicto), sobre como chegou ao ápice após parar de usar, e como despencou ladeira abaixo depois, por achar que já era bom o suficiente, e não precisava mais da ajuda de ninguém. Precisou se reerguer novamente, começar do ZERO de novo.
E deu certo... Deus foi muito misericordioso com ele e o escolheu para salvar vidas.

Meu amor se emocionou bastante.
E, em um momento em que nem eu esperava, ele disse sobre sua satisfação ao ver os milagres acontecerem. Apontou para nós dois, pediu-me desculpas dizendo que iria "sobrar pra  mim", e, por alto, falou sobre como meu amor chegou lá e como ele está agora. Não consegui conter as lágrimas. E dali para frente eu chorei bastante.
Lembrei-me que, quando tudo aconteceu, todos que souberam como foi a recaída (com exceção de uma única companheira da reunião do Amor Exigente), me falavam para deixá-lo. É claro que sei que diziam isso por desejarem o melhor para  mim, por se preocuparem comigo.
"Você não precisa disso", "Agora já chega, não é mesmo?""Ele não quer parar de usar", "Você não tem que viver assim", "Ele não te ama".
E eu repetia para mim mesma que realmente não merecia aquele inferno, que não queria mais viver daquela forma. Mas alguma coisa não me deixava desistir.

E ontem eu fiquei por alguns minutos, embalada por um louvor, abraçada ao meu amado apenas chorando e agradecendo a Deus por eu não ter desistido. Eu não conseguia pensar em mais nada. 
Às vezes eu o olhava e dizia que o amava, ele retribuía.
Foi muito bom.

Saímos à noite para comer uma pizza. E adivinhem: eu pedi de frango com palmito, e ele pediu portuguesa!
Hoje ele leu as últimas postagens do blog e elogiou bastante. Fico feliz em saber que ele gosta do que estou escrevendo.

É a primavera chegando... Os sonhos voltando a florescer...

Tenham um ótimo início de semana!
Fiquem com Deus!




sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Eu quero pizza de palmito!

Já é sexta-feira, mas como ainda não fui dormir, para mim ainda é quinta! rsrs

Graças a Deus tive uma boa semana, me senti um pouco cansada no primeiro dia de trabalho, mas acho que foi devido às altas doses de remédio e ao grande desgaste da internação.
Voltar ao trabalho é sempre muito bom, e receber o carinho verdadeiro e gratuito dos meus alunos é algo que realmente me toca. Foram muitos abraços apertados.
"Fessora, você deu um susto em todos nós, não faz isso de novo não"
"Tiaaaaa, que bom que você voltou, estava com saudade dos seus esporros"
"A gente queria te visitar no hospital!"

Meus meninos fazem parte de mim... Eles são muito especiais.

Meu dia hoje foi mega corrido, e só liguei para a clínica já de tardinha e meu bem atendeu reclamando "Por que você só está ligando agora?"
(Santa impaciência e santo imediatismo! rsrsrs)

Estou numa boa fase, em paz e centrada.
Hoje tive uma consulta com minha psicóloga que foi muito produtiva, como todas as últimas tem sido.
Disse a ela que desde que meu amado foi internado (e estávamos rompidos na época), as coisas mudaram muito rápido dentro de mim, e isso às vezes me impressiona, e até me assusta.
Nunca consegui ter mudanças repentinas de postura, sempre sofri muito com as coisas. Na minha infância, colocava-me na posição de vítima, sempre me preocupei muito em fazer apenas o que agradasse aos outros, e a opinião alheia era o que mais importava. Ao longo da vida sempre fui muito mais passional que racional. Aliás, razão era uma característica que não fazia parte de mim.

E, de repente, TUDO aconteceu como um estalo!
Vi-me sozinha encarando toda aquela situação complicada. Não havia ninguém para me abraçar e dizer-me que tudo ficaria bem. Minha mãe apenas me observava e sofria vendo-me sofrer.
Minhas amigas não tocavam no assunto (hoje sei que elas não sabiam como fazer isso, e não as culpo).
Ninguém conseguiria me ajudar a não ser eu mesma... E foi o que fiz!
Me reergui de tal maneira que nunca me senti tão forte e tão certa do que quero.

Talvez quem olhe de fora possa pensar:
"Ela é louca em se casar com um cara desses tão rápido. Colocá-lo dentro de casa assim que ele receber alta..."

Jamais me senti tão segura em uma decisão, que por sinal, era outra coisa que eu não sabia fazer.
Tomar uma decisão era algo que me fazia sofrer de verdade.
Hoje, ninguém será capaz de me convencer que estou sendo precipitada.
Acho que é a primeira vez na vida que faço algo por mim, sem pensar se estou indo contra alguém. E percebo que esse é um grande passo.

Eu era capaz de comer uma pizza que eu não gostasse muito só para não criar conflitos...
Tipo a Julia Roberts no filme "Noiva em fuga". Em certo momento ela percebe que não consegue saber a forma como prefere comer ovos, pois sempre come de acordo com a preferência de seu noivo!

Agora eu sei que pizza de palmito e pizza de frango com catupiri são as minhas preferidas, e que eu não gosto de portuguesa.
E sei também que eu quero me casar com ele, mesmo ele sendo um DQ!
Isso só diz respeito a nós dois!
Estamos felizes, construindo sonhos e uma relação em terreno firme, e é isso que importa.

À noite retornei à reunião do Amor Exigente. Eu não estava frequentando desde março pois dava aula no dia da reunião, mas agora consegui alterar meu horário. Foi ótimo retornar.
O papo foi bem proveitoso. Em meu sub-grupo todas estão numa fase de paz, todas estão bem e aprendendo a viver um dia de cada vez, aprendendo a viver pensando em estar bem.
Fiquei feliz com isso.
Fase de muitas coisas boas mesmo.

E para fechar minha noite com chave de ouro, ao abrir minha caixa de emails, havia um comentário da minha fonte de inspiração para esse blog. Isso é muito importante para mim, afinal, é como se ela fosse a madrinha dessa relação, aprendi muito com ela...
Poly P., do blog "Amando um Dependente Químico". Foi através das palavras dela que busquei forças para mudar a mim mesma!
Obrigada por tudo, Poly!

Amanhã vou buscar meu amor na clínica para passarmos um delicioso fim de semana juntinhos!
Um grande beijo a todos...
Paz e serenidade!

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Recaída!

A dependência química é cruel, fria e traiçoeira. Não é permitido ao dependente químico descansar em sua vigília por nenhum minutinho sequer. Ele precisa estar sempre atento.

Quem convive com um DQ também precisa estar atento a quaisquer tentativas de manipulação, e não criar facilidades para eles. O adicto é um ser extremamente inteligente sabe articular tudo com muita perfeição.
Por isso, precisamos estar fortes e serenos.

Meu amor sempre diz que se render ao tratamento foi a parte mais fácil para ele, que já chegou ao centro terapêutico rendido, pois não tinha mais o que perder, já estava na lama!
A parte complicada foi dar o passo inicial em relação as mudanças de comportamento que lhe seriam necessárias. Assumir sua impotência, sua necessidade de ser submisso.

Muitas vezes, é comum ouvir histórias de pessoas que já estão limpas há algum tempo, mas acabam recaindo por saírem da vigília, ou por deixarem o ego tomar conta de si. A pessoa acha que já está bem e que não precisa ficar se apoiando em nada, e que já é capaz de dar conta do recado sozinha!
Esse é um grande sinal de que a recaída está por vir.

Meu bem às vezes comenta que fica preocupado com alguns garotos novos, em fase de recuperação, que chegaram ao fundo do poço rápido demais em função do "crack", pois não chegaram a ter uma "lua de mel" com a droga, não chegaram a ter "bons momentos" de uso. O crack não permite isso. E ele tem medo que esses garotos voltem para as drogas com a expectativa de conseguir viver algo de "bom".

Meu amado acha que o medo é um grande aliado dele, pois ele sabe que se recair voltará para uma lama pior do que a que ele estava, sabe que não vai conseguir parar, e que tem um grande medo de, por vergonha, não ter coragem de pedir ajuda.
"Se eu recair eu vou morrer, não tem outro caminho."

Ele sempre comenta como estava sofrendo, que já não existia mais prazer no uso, que era o tempo inteiro uma paranoia e uma sensação de perseguição. E quanto mais sentia-se assim, mais buscava pela droga para tentar fugir do pânico. Eventualmente ele conta alguma história sobre algo absurdo que fez, e termina com a frase "Meu Deus, quanta insanidade!".

Hoje ele percebe a importância das partilhas, das reuniões e do padrinho. Ele sabe que precisa sempre estar nas reuniões, não por imposição, mas por sua recuperação.
Antes ele se prendia a exemplos ruins dentro das salas de NA, como aquelas pessoas que acham que o fato de estarem limpos já basta, e permanecem com comportamentos inadequados, como traição ou desonestidade. Ele sempre falava que NA era só uma fachada.
Lembro-me de como ele se recusava a aceitar que precisava de alguém para aconselhá-lo, era como se ele fosse alguém "menor" por necessitar de ajuda. Hoje sua visão é outra. Ele ignora atitudes contrárias ao que prega o programa e foca apenas naqueles exemplos que deram e dão certo.

No último domingo fomos juntos a uma reunião aberta de NA e foi bom pois tinha pouca gente, então todos partilharam. É impressionante como todos os adictos possuem conflitos internos muito semelhantes.
Eles querem se manter limpos, mas sentem dificuldades em função das facilidades que o mundo os oferece, principalmente em relação ao álcool.

O dependente químico é portador de uma doença progressiva e sem cura, mas que se tiver muito cuidado pode ser controlada.

Sei que momentos difíceis virão, momentos em que o medo virá me atormentar, mas o que me mantém centrada é o fato de que aprendemos a ter um diálogo franco um com o outro, e estamos cultivando isso mais e mais a cada dia. E sei também que eu nunca serei capaz de impedi-lo de usar, como não fui durante um ano, essa escolha deve ser dele, bem como as consequências dessa escolha.


E no último domingo nós completamos 2 meses de namoro! (leia "Pergunte de novo...")

Meu amor está limpo e sereno a 146 dias!

Fiquem com Deus!

domingo, 12 de agosto de 2012

Fim da folga!

Domingo...

Está chegando a hora de voltar a realidade.
Passamos dez dias juntinhos e grudados, mas amanhã volto ao trabalho e a vida normal. Por mais que a maior parte desses dias tenham sido sofridos e difíceis, ainda assim foi muito bom.

Só para explicar: no dia em que fui internada, era dia dele ir para casa passar o fim de semana com a família, mas ele foi ficar comigo no hospital. Ele deveria retornar ao Centro Terapêutico na segunda-feira cedo, mas o terapeuta da instituição (e padrinho dele) disse-lhe que ele só sairia do meu lado quando eu recebesse alta e estivesse bem. Que ele deveria ficar comigo, e depois, de alguma maneira, esses dias serão "pagos".
E assim foi!

Eu me senti constrangida por ele não ter ficado ao lado da irmã, que veio para vê-lo, mas ela me mandou um torpedo dizendo "Eu nunca vi meu irmão tomar conta de outra pessoa".

Penso que o terapeuta tenha feito isso para que meu bem entendesse o sentido e o valor de uma relação a dois, ou seja, compreendesse aquela velha frase "...NA ALEGRIA E NA TRISTEZA, NA SAÚDE E NA DOENÇA, POR TODOS OS DIAS DE NOSSAS VIDAS..."
E acho que ele compreendeu sim.

Como eu disse no post anterior, Deus escreve mesmo certo por linhas tortas, e o balanço final dos últimos dias foi extremamente positivo. Minha mãe já está bem mais leve.

Ontem ele foi até ela para entregar-lhe R$ 50,00 referentes ao dia fatídico da recaída, mas ela recusou-se a aceitar e disse-lhe "Eu não quero dinheiro nenhum, quero apenas que você faça minha filha feliz e não minta mais para ela".

Eles estão bem um com o outro. Ela parece que está voltando a confiar nele.
Como saí do hospital na sexta-feira, ele pediu autorização de minha mãe para vir para casa dela e ficar comigo, e ela aceitou. Na verdade, foi meio que uma duplicidade, ao mesmo tempo em que ele pediu, ela também o convidou...

Levei-o para conhecer o apartamento novo para ele ver como estão as obras e ele ficou muito entusiasmado, fizemos mais planos.


Ontem a noite saímos os três, eu e ela fomos à missa, e ele ficou na reunião de NA. Na volta para casa ele contou algumas coisas para ela, explicando, por alto, como funciona o tratamento.
Hoje pela manhã fomos, novamente, à reunião de NA. Como é dia dos pais, ele partilhou um pouco sobre a perda do pai, em fevereiro, e sobre como chegou, definitivamente, ao seu último fundo de poço após esse fato.
Depois fomos todos para a casa da mãe dele para um almoço em família. Eu, ele, minha mãe, minha irmã, a mãe dele e minha cachorrinha. Um almoço em paz. Foi como se estivéssemos oficializando essa nova fase, esse recomeço.

Cheguei a pouco em casa, e já estou com saudades.
Na próxima sexta-feira estaremos juntos novamente, se Deus quiser!

Uma ótima semana a todos!

sábado, 11 de agosto de 2012

Linhas tortas...

Boa tarde!
A ausência desses dias já estava me incomodando...

Muita coisa aconteceu nos últimos 15 dias. Foram momentos ruins, difíceis, fortalecedores e que proporcionaram muito crescimento e amadurecimento...

Fui surpreendida com uma infecção grave nos rins, que começou a dar sinais visíveis na segunda-feira, 30/8, e acabei sendo internada na sexta-feira, 3/8. Permaneci no hospital por sete dias!
Um turbilhão de coisas passou pela minha cabeça quando descobri que teria que ficar internada sem previsão de alta.
Era sexta-feira, dia em que ele sairia da clínica para mais um fim de semana em casa (fase da reinserção). Eu já não estava conseguindo trabalhar pela manhã desde a quarta-feira, e lembro-me que liguei dizendo que não sabia se conseguiria encontrá-lo naquele dia, eu chorava muito ao telefone.
Senti muito medo de que algo muito ruim estivesse por acontecer, medo de perdê-lo, de não poder viver tudo que sonhei que viveríamos juntos.
Cheguei, sim, a achar que talvez fosse a hora que Deus me quisesse junto Dele, que talvez minha missão já tivesse sido cumprida.
Não sei os motivos de tanto medo, mas eles me atormentaram até cerca de três dias após a internação.

Meu amor chegou ao hospital à noite, e não saiu mais do meu lado por nenhum instante.
Na primeira noite minha mãe ficou muito apreensiva, sem saber se poderia confiar minha fragilidade a ele, depois de tudo que havia acontecido. Eu estava muito debilitada, mal conseguia andar.
Até aquele momento eles ainda não haviam, verdadeiramente, se encontrado, e ela ainda tinha muitas reservas com a nossa relação, como eu já disse anteriormente.

Com muitos receios, ela cedeu e deixou que ele ficasse comigo. E assim foi por todos os longos sete dias que permaneci lá.

Um dia eles saíram sozinhos para comprar uma medicação específica para minha enxaqueca, que também resolveu me visitar. E ele se abriu, arrancou suas máscaras e disse que não queria fingir que nada havia acontecido, que sabia que havia sido um canalha.
"Eu sei que não tem desculpas para o que eu fiz, nada justifica... Eu não amava sua filha, porque eu não não amava nem a mim mesmo"

Minha mãe é muito séria e centrada, ouviu e, como uma boa matriarca, falou tudo que achou que deveria falar, mas não foi grosseira, apenas disse a verdade.
"Não se atreva a fazer minha filha sofrer de novo"

Mas Deus é mesmo muito perfeito... A história de que Deus escreve certo por linhas tortas se encaixou perfeitamente em tudo que vivi esses dias.
A reaproximação dos dois, em virtude das circunstâncias, acabou acontecendo de forma natural. Ela conseguiu perceber mudanças nele.
Mas é claro que ela ainda está em vigília, e permanecerá assim por muito tempo. Isso é natural e ele já compreende.

Foram muitos dias juntos... Passamos por várias fases.
Em alguns raros momentos, de forma branda, perdemos a paciência um com o outro, mas logo percebíamos que era por tensão com a situação.
Conversamos bastante sobre absolutamente tudo que estamos vivendo.
Fizemos planos, sonhamos juntos com nosso futuro lar.
Contrariamos as regras do hospital e, eventualmente, deitávamos juntos com ele tentando me acalmar.

Por muitos momentos, minha consciência pesava por saber que a irmã dele, o cunhado e os sobrinhos vieram passar o fim de semana, mas ele não aproveitou como deveria os momentos em família.
Sofri bastante também vendo-o toda noite deitar-se no chão, ao meu lado, sem o mínimo conforto, e dizendo que o que importava era que ele estava ali comigo.
"Eu disse que cuidaria de você..."

Chorei muitas vezes de angústia. E ele também chorou outras tantas. Dizia que eu não merecia passar por aquela dor. Ele orou por mim, e disse que me amava.
Algumas vezes sentia-se culpado, por saber que aquilo tudo poderia ser consequências do estresse que vivi. Eu tentava retirar o peso da culpa das costas dele, mas perecia ser em vão.
Seus olhos lacrimejaram diversas vezes. Ele dizia que às vezes não entendia certas maneiras de Deus agir.

Confessamos muitas coisas um ao outro, e descobrimos que nosso amor é verdadeiro, e que por isso fomos capazes de superar situações extremamente delicadas, inclusive sobre coisas de nosso passado. Conseguimos colocar Deus entre a gente, o que nos fortaleceu.

"Você é a mulher da minha vida..."

Descobrimos que a gente se encaixa em tudo... Até mesmo no café com leite... Eu gosto de muito café e pouco leite, e ele gosta de mais leite que café... Ou seja, quando chegava o lanche da manhã ou da tarde, a quantidade que vinha dava para dividir direitinho entre a gente!! rsrsrs

Estou em casa, graças a Deus! Recuperada e pronta para voltar a minha vida normal...