A coragem das sementes!

Boa tarde pessoal...

Desejo coisas boas e paz na vida de cada um de nós.

Graças a Deus tudo está em paz aqui em casa.

Palavras ditas por ele outro dia:

“Amor... Estou disposto a tudo... Vamos procurar um terapeuta de casal. A gente tem tudo pra dar certo, são poucas coisas a acertar...”

De início não acreditei muito, pois sabemos o quanto os adictos são instáveis em relação à tomada de decisões, principalmente quando envolvem mudanças de comportamento. Mas depois conversei com ele sobre o assunto e mostrei-lhe que precisamos sim fazer isso. É o mínimo que devemos a nossa relação.

Ao folhear a agenda de uma amiga que contém trechos de poesias, uma frase traduziu bem a postura de nossos amados adictos:

“Há de se ter coragem para ser livre. Porque se libertar também dá trabalho.”

(Affonso Romano de Sant’Anna)

Ontem e hoje andei lendo algumas postagens do grupo do facebook e vi o quanto muitas de nós ainda são frágeis e dependentes emocionalmente de nossos dependentes químicos.

Percebi muita dor, mágoa e até desesperança.

Viver ao lado de um adicto é uma questão de escolha que pode ser muito complicada e trazer consequências dolorosas, principalmente se ele estiver na fase ativa de sua doença.

É uma decisão séria para nós.

Muitas vezes, mesmo quando tudo indica ao contrário, resolvemos permanecer ao lado deles na esperança de que “dessa vez vai ser diferente”.

Algumas das leituras me deixaram bastante tocada, pois eu me via nelas em um passado não muito distante.

Quanta dor... Quanto sentimento de que a recuperação deles está em nossas mãos, de que podemos fazer isso ou aquilo por eles, e que tudo dará certo... Quantas visões distorcidas em relação à doença da adicção... Quantas culpas e fracassos assumidos...

E enquanto eles não tomam a decisão de parar de usar, do lado de cá da plateia, nós, pobres co-dependentes, vamos nos afundando e sofrendo ainda mais que eles, pois eles fogem da realidade com a droga e esquecem da dor, e nós ficamos aqui, no mundo real assistindo a tudo!

A realidade, minha gente, é que muitas vezes, a única coisa que nos resta a fazer por eles é simplesmente SOLTAR A CORDA! Deixá-los por conta própria, fazendo suas próprias escolhas. Literalmente deixá-los quebrar a cara!

É fato, eles só funcionam com perdas.

Em alguns momentos, nem mesmo Deus pode fazer nada...

Eu orava incessantemente por meu amado. Uma oração sofrida, desesperada, aflita... Sei que Deus me ouvia e ainda me ouve, mas acontece que Deus não irá agir na vida de nossos amados adictos enquanto não ver neles o desejo de entrar em recuperação.

Eu demorei a descobrir isso.

E ele demorou a aceitar que não tinha mais outra escolha.

Eu jamais serei capaz de dizer a qualquer uma que venha me pedir um conselho que deixe ou permaneça ao lado de seu DQ, pois só nós conhecemos os sentimentos que estão dentro de nosso coração. Eu não dei ouvidos quando me diziam para deixá-lo. Fiz o que meu coração me mandou fazer, mas procurei ter o mínimo de racionalidade nas minhas decisões.

Se desse (ou se der) errado a responsabilidade é somente minha!

Lembro-me sempre das palavras de minha psicóloga quando começamos a namorar:

“Querida, cuidado, pois os dependentes químicos são extremamente sedutores. Eles possuem o dom de nos fazer acreditar em suas palavras” (hoje sei que o nome disso é manipulação!).

E depois quando ele se internou:

“Esteja muito atenta às palavras dele. Procure filtrar suas falas, tente perceber a sinceridade ou não nas atitudes dele, perceba os gestos.”

Foi então que eu procurei aprender a educar os meus ouvidos. Ficou mais fácil perceber a manipulação, e é importante sabermos que a manipulação faz parte do caráter deles, é quase automático. Caso eles entrem em recuperação, algumas de suas ‘manias’ não serão abandonadas. Por exemplo, ainda hoje, muitas vezes, eu sou capaz de notar meu amor tentando me manipular em algumas coisas pequenas, bobas, mas finjo que não percebo ou levo na esportiva.

Precisamos aprender a focar em nós mesmas, sermos mais ‘egoístas’. Precisamos aprender a procurar meios de tratar nossos sentimentos. Eu sempre fui emocionalmente fraca, e ainda sou, mas aprendi a lutar todos os dias contra isso, e nos últimos tempos estou lutando mais ainda. Só assim seremos capazes de ajudar o outro, seja ele adicto ou não.

Desejo a todos um lindo ano novo, com renovação das forças.

Que possamos viver um dia de cada vez e aprendermos a nos amar.

Deixem para trás a dor que passou.

“É preciso prezar a coragem das sementes. Apodrecer para inaugurar o fruto.”

(Bartolomeu Campos de Quirós)