sábado, 19 de janeiro de 2013

Sinais...

Como saber se as coisas estão mesmo bem?
Como saber se ele vai voltar para casa?
Como saber se ele não está nos manipulando?
Como saber se ele não vai mesmo recair?
Como saber se ele não vai sumir com o carro?
Como saber se ele está mesmo no propósito de não mais usar?
Como saber se voltaremos a viver na tempestade?
Como saber se somos mesmo importante para eles?
Como saber se ele tomou, verdadeiramente, a decisão?
Como saber tantas outras coisas?
...

Sinto muito, pessoas, mas não tenho como responder nenhuma dessas questões.
Sinto muito mesmo...
A única coisa que sei é que precisamos tentar ler sinais.
Logo que ele saiu da clínica, certo dia eu liguei para o celular dele quando cheguei em casa e caiu direto na caixa postal. Liguei de novo e ele recusou a ligação, mais uma vez e... de novo...
Meu Deus...
Estremeci por inteiro. Meu corpo anestesiou. Senti o chão se abrir. Surtei, literalmente...
Mas, dentro de dois minutos, ele retornou.
"Eu estou saindo da casa de uma cliente antiga, aqui perto... Vim visitá-la e dizer que voltei a trabalhar aqui... Não dava para atender..."

A essa altura eu já estava chorando...
Ele ficou aborrecido com isso e reclamou.
Mas as coisas estavam muito frescas ainda, eu ainda não me sentia segura.
E então ele voltou a trabalhar, e para meu desespero foi em regime de plantão noturno e de fim de semana.
O hospital ficava ao lado de um bar bem badalado aqui no bairro.
Achei que iria pirar! A primeira noite dele trabalhando eu passei em claro!
Rezei! Mas já não era uma oração desesperadora como vinha sendo na época da ativa.
Foi então que descobri que estava aprendendo a entregar de verdade nas mãos Daquele que é o único que pode fazer algo: Deus!

De lá para cá muita coisa mudou em relação a essas minhas inseguranças.
Comecei a praticar, diariamente, o exercício de repetir a mim mesma:
"Não depende de mim... A escolha é APENAS dele. Só depende da BOA VONTADE dele!" 


Com o tempo, alguns medos foram saindo de mim.

Hoje eu já me sinto bem mais segura.
Eu sempre ouço a voz de Deus falando comigo em gestos ou palavras soltas que vejo, leio ou escuto no dia a dia.
Sou completamente atenta aos sinais que Deus me envia. Treinei minha fé para isso, mas foi um trino bem suado e difícil!

Ele não perdeu o hábito da manipulação. Na verdade, acho que eles NUNCA vão perder isso. São verdadeiros artistas.
Mas hoje a manipulação é com outros fins.
Para fazer as pazes após uma discussão boba, por exemplo... Ou para justificar que teve que voltar ao hospital de noite só para dar alta a um cachorrinho, mas que aconteceu um imprevisto e teve que fazer outro atendimento. E, na verdade, está quase óbvio que isso já estava programado, mas faço ele pensar que acreditei. E ele fica feliz!
Na maioria das vezes, me faço de boba, e é minha vez de manipulá-lo, e finjo que não estou percebendo.

Levo uma vida normal ao lado do meu adicto. Minha única limitação hoje é em relação a vida social, que não é tão intensa, mas isso não é sacrifício para mim, pois antes de estarmos juntos eu já andava meio sem paciência para as noitadas. Passei da fase!
Quando aceitamos viver ao lado de um DQ precisamos estar cientes de que teremos certas limitações.

Eu, particularmente, não tenho mais estrutura física e psicológica para viver com ele se ele resolver voltar para a ativa. E ele sabe disso, e sempre me diz que se um dia recair eu devo deixá-lo, pois ninguém merece viver ao lado de um DQ que não queira parar de usar.

Quando aceitei viver com ele, mesmo depois de tudo que passei, me proibi a viver de forma insana,  ou seja, não fico preocupada se ele vai tirar algo de dentro de casa, se ele vai voltar quando tem que sair sozinho, se ele vai querer usar, e coisas assim.
Acho que isso é desligamento!

Hoje meu corpo não treme quando ele não atende o celular, pois sei que é porque está em atendimento ou em cirurgia.
Hoje sei que ele estará em casa quando eu chegar, e se não estiver, é porque deu um pulinho no hospital, que é pertinho de nossa casa.
Quando ele demora um pouco mais, eu apenas peço a Deus que cuide dele. Só isso!
Hoje não tenho medo de deixar o dinheiro diariamente para ele comer alguma coisa. E ele, assim que recebe algum dinheiro, seja qual for o valor, me avisa imediatamente, e assim que chego em casa ele me entrega.

A medida que o tempo passa, respiro mais calmamente.
Percebo que meu pensamento não está 24 horas por dia focado no fato dele voltar ou não para casa, porque simplesmente sei que ele voltará.

Mas a caminhada até aqui foi longa, e em nenhum momento perdi a fé e a esperança, mas precisei me convencer de que manter-se limpo só depende da boa vontade dele!

Resolvi voltar para minha terapia, mas dessa vez, foi por mim mesma, pois sei que ainda tenho muito a melhorar.
Tenho medos a perder, principalmente o medo da felicidade, que sempre me atormentou.
Sei que erro bastante e às vezes vejo coisas que não existem, não mais em relação a doença dele, mas em relação a mim mesma.
Resolvi voltar para tratar meu anseios e fraquezas. Minha codependência.
E, principalmente, para não ser permissiva com o mundo, como sempre fui.
A vida inteira permiti que pessoas que eu amo me magoassem, e "deixei pra lá" para não piorar as coisas, até que um dia um Padre segurou firme em minha mão e me disse:
"Minha filha, não confunda ser boa com ser boba. Você está sendo boba!"

Nunca mais esqueci isso! Então, acho que está mais do que na hora de colocar em prática o fato de deixar de ser boba!


19 de janeiro: leitura do "Só por hoje"

"Quando paramos de viver aqui e agora, nossos problemas são aumentados exageradamente."

"Alguns de nós parecem fazer tempestade de um copo d'água com nossos problemas. Mesmo aqueles de nós que encontram alguma serenidade, provavelmente, em algum momento de nossa recuperação, colocam algum problema totalmente fora de proporção -  e, se ainda não o fizemos, provavelmente logo faremos!..."

Só por hoje: eu terei uma visão realista de meus problemas e verei que em sua maioria são pequenos. Eu os deixarei assim e apreciarei minha recuperação.



Desejo força e fé àquelas que estão em turbulência.
Desejo paz e amor. Além de escolhas certas.
Desejo que aprendam a ver os sinais.

Forte abraço!

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