sexta-feira, 21 de setembro de 2012

21 de Março...

Ontem, 21 de Março...

E hoje, 21 de Setembro...


Parece que foi ontem que tudo aconteceu...
A primavera tem início no próximo dia 23.

Lembro-me perfeitamente de cada detalhe ocorrido entre os dias 13 e 21 de Março, e também dos dias subsequentes. Foi um período muito sofrido. Por diversos dias eu não dormi, não comi e não me concentrei para fazer nada. Eu não era capaz de conversar com Deus e nem de conversar com alguém, as palavras simplesmente não saíam da minha boca. Meu olhar não fixava em absolutamente nada. Meu sono era agitado e meu corpo tremia.
No dia da internação, era uma quarta-feira, ele estava completamente agressivo comigo (verbalmente falando), me dava más respostas o tempo inteiro.
Lembro-me que ele falou, com um tom extremamente arrogante, antes de sairmos de casa:
"Olha, eu vou ficar lá por três meses e já está bom, mas eu nem sei se vamos ficar juntos..."

Eu olhei para ele e ri de forma debochada.
"Espera aí... Se tem alguém que tem que dizer que não sabe se vai ficar junto aqui sou eu... Você não está me fazendo favor algum... Se enxerga!"

Depois que o deixei no centro terapêutico, quando eu estava indo embora, ele amansou, me pediu um abraço, chorou e disse:
"Me desculpe pelas grosserias de hoje... É que é muito difícil para mim... Tudo é muito difícil..."

Eu mantive uma postura que não era comum a mim, até hoje não sei como consegui. Mantive-me firme, seca e não chorei em momento algum. Eu tinha certeza de que seria a única chance de vida para ele.
Mas ao voltar para casa, ao longo do trajeto (mais ou menos 50 Km), estava engasgada, chorando e orando a Deus que incomodasse o coração dele.
Eu estava sem forças, queria dormir e descansar, mas ainda tinha que trabalhar.
O trabalho era a única coisa capaz de me fazer esquecer o pesadelo que eu havia passado.
Eu odiava as quintas-feiras, pois era dia de ligação e eu sentia dor ao ouvir a voz dele, mas eu também não conseguia ignorar a existência dele e não ligar para lá.
Lembro-me que quando ele tinha cerca de 40 dias de internação, tentou manipular a mãe dizendo que queria sair.
Eu fui tão rude com ele... Nem sei como tive sabedoria para isso... Mas acho que funcionou...


Às vezes gostaria de esquecer tudo isso, deletar da minha memória, mas não consigo. 
O lado bom é que essas lembranças já não me causam mais dor alguma. Ao contrário... Agradeço muito à Deus pelo que passou, pois realmente, passou... E não é sempre que me recordo disso, mas hoje não teria como não lembrar.
Em alguns momentos penso que é bom relembrar, pois olho para trás e vejo como eu estava sofrendo ontem e como estou feliz hoje.

Tive um dia muito feliz, passei metade dele sorrindo para o vento. Em alguns momentos eu me perguntava se era mesmo real ou se não era sonho... Parece que estou flutuando...
Essa sensação acontece comigo porque mais da metade da minha vida eu sempre tive uma auto-estima muito baixa. Achava-me não merecedora de coisas boas, ou sempre achava que tudo daria errado mesmo!

Antes de entrar nesse relacionamento eu desconhecia o termo "codependência", mas hoje sou capaz de perceber que ela fazia parte da minha vida desde sempre. Achei-me culpada pelo fracasso do casamento dos meus pais, pelos meus desentendimentos com minha irmã. Pelas vezes em algo dava errado com minhas amigas. Sempre tentei abraçar os problemas de quem estava ao meu redor. Eu focava no mundo, mas não focava em mim.

Minha recuperação começou no mesmo dia em que internei meu amado.
Quando eu retornava para casa, o filme da minha vida passou diante de mim, e eu percebi o quanto eu estava doente, o quanto eu errei, não só com ele, mas na minha vida inteira, o quanto eu me permiti viver no sofrimento e permiti que me manipulassem, o quanto eu depositei minha vida e minhas alegrias nas mãos dos outros. E então percebi que deveria dar um basta, que não podia mais viver assim.
Estou tentando me curar. Olhar para mim mesma. E devagar estou conseguindo.

Meu amado já está aqui em casa comigo. Fomos dar uma olhada em sofás e também fomos ao apartamento para ele ver como está ficando nossa casinha.
Está tudo com cheirinho de amor.
Felicidade!!!

A alta dele será na próxima sexta-feira, dia 28 de Setembro, às 14h. Dois dias antes de meu aniversário...
Deus é mesmo danadinho, e sabe, de verdade, o que faz!



Sobre a codependência:
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Codependência é uma condição específica que se caracteriza por uma preocupação e uma dependência excessivas (emocional, social e a vezes física), de uma pessoa em relação à outra, reconhecidamente problemática. Depender tanto assim de outra pessoa se converte em uma condição patológica que caracteriza o codependente, comprometendo suas relações com as demais pessoas.
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Codependente tem seu próprio estilo de vida e seu modo de se relacionar consigo próprio, com os demais e com a pessoa problemática. Devido sua baixa auto-estima, ele sempre se preocupa mais com os outros do que consigo mesmo (pelo menos aparentemente).
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Não se consegue compreender porque essas pessoas abrem mão da possibilidade de ser feliz ou de diminuir o sofrimento, permanecendo atreladas à pessoa problemática, suportando toda a tirania de sua anormalidade, como se esse fosse o único papel reservado pelo destino.


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