sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Dor...


Terça-feira.
Eu havia acabado de atualizar o blog e meu celular tocou. Era uma amiga que sei que acompanha o blog e achei que a ligação era para comentar alguma coisa.
Mas infelizmente não era...
Meu ar faltou de repente, e vi um filme de terror passar diante de mim. Todas as lembranças dos dias de dor vieram a tona numa fração de segundos. Senti uma mistura de raiva e dor. Mas graças a Deus, o sentimento de desespero não durou muito.
Pratiquei um exercício que tem me ajudado bastante que é repetir a mim mesma:

"Não depende de mim! Não depende de mim! Não depende de mim! Se um dia tiver que acontecer de novo, não sou eu que serei capaz de impedir!"

O esposo de outra companheira, que esteve internado na mesma instituição que meu amor estava e recebeu alta cerca de um mês antes, havia recaído e estava fora de casa desde o dia anterior. Foi uma notícia muito horrível.
Ela teve bebê na semana passada, e eu só pensava naquela mulher, com um anjinho recém nascido no colo tendo que passar por isso tudo novamente.

Meu amor estava deitado no sofá enquanto eu falava ao telefone e logo percebeu que havia algo errado.
Quando eu contei, ele apenas levantou-se, veio em minha direção e me abraçou forte.

"Me deu um frio na barriga!"

Essa foi a única coisa que ele conseguiu dizer no primeiro momento.
É um cara que ele considera um amigo de caminhada.

Meu bem ficou triste e calado por algum tempo. Ele sabe que é muito difícil manter-se limpo, que se vacilar por um único instante, a auto-suficiência grita dentro dele e a recaída é certa. Tive a impressão que ele sentiu medo.
Eu, particularmente, acho que a sensação de medo, de certa forma, pode ser ótima, pois ela funciona como um freio, que nos impede de abusar da sorte.

A recaída não acontece de imediato. Na verdade, a recaída vem bem antes, e pode ser detectada com a postura arrogante do adicto, na dificuldade em manter-se submisso ao programa, na vontade de fazer as coisas segundo seus desejos, enfim... Uma série de fatores que vão dando os sinais de que o adicto já está recaído, e o ponto culminante se dá com o uso das drogas.
Às vezes ele tenta me explicar como funciona a mente dos adictos, sobre como eles se auto-sabotam e procuram motivos em tudo para justificar o que os levaram ao uso. E sempre há um ‘porque'!

Minha noite de sono não foi lá grandes coisas, sonhei o tempo inteiro com o casal, e eu o via usando drogas no sonho.
Para minha paz, meu amado me transmite uma confiança e serenidade muito grande. Não que ele esteja sentindo-se auto-confiante, muito pelo contrário, ele sabe muito bem o tamanho do seu problema e o que pode acontecer se ele resolver tentar usar novamente.
Hoje ele diz que aprendeu a usar ferramentas para identificar os sinais que podem despertar o desejo de usar, e, automaticamente, ele já consegue converter as idéias de forma que os sentimentos ruins sejam afastados. Ele procura sempre desviar o pensamento para relembrar o estado em que estava antes de entregar-se ao programa.

"Eu procuro sempre lembrar de onde eu vim... De tudo que estou reconquistando agora e que, se eu usar,  vou perder tudo de novo..."
...
"Eu prestei atenção em cada palavra dita pelo meu padrinho durante suas terapias. Eu tenho tudo gravado em minha mente. E isso me ajuda muito, pois ele me deu muitas ferramentas para que quando o sentimento venha, eu saiba como fazer para me livrar dele."

Ele tem consciência que não pode afastar-se do programa, e que no dia em que ele achar que está ‘ótimo', já é sinal de recaída.

Nesta quarta-feira ele começou a trabalhar, e para minha agonia inicial, fez plantão durante a noite, até as 9h de quinta feira. As borboletas voltaram a bater as asas dentro do meu estômago, mas, dessa vez foi de levinho e novamente, pratiquei o exercício para abandonar a co-dependência.
Ele precisa recomeçar a vida dele, e assim será. Ele tem que ter consciência de suas escolhas e das conseqüências que elas poderão ter. E eu preciso aceitar que jamais vou ser capaz de contê-lo. A recuperação é diária e depende apenas da boa vontade a da força de vontade dele!
Ele saiu de casa tão animado e ansioso para recomeçar que deu gosto de ver.

Eu fui para a reunião do grupo Juntas Podemos Mais. Eu também estava animada e feliz!
Por volta das 23h levei um lanche para ele. Ele mostrou-me toda a clínica, os cachorrinhos que ele havia atendido e os filhotinhos que nasceram (fofos).

Voltei para casa com o coração apertado e com um certo receio. Além de ser minha primeira noite sem meu amor, imaginei-o sozinho durante toda a madrugada e com dinheiro disponível.
Mas eu sei o quanto ele está valorizando as novas conquistas. O quanto ele se importa com o proprietário da clínica, que é seu amigo de verdade, e que se vacilar perderá tudo. Concentrei-me em sua transformação e no milagre que tem sido sua vida. Voltei para casa e consegui dormir tranquila durante toda a noite.

A esposa do proprietário do centro terapêutico comentou na nossa reunião sobre como ficou impressionada com a transformação vivida por meu amor. Que somente quem o viu quando chegou ele lá, e quando ele saiu, é capaz de dizer.

Eu o amo! E estamos juntos... Só por hoje...

E por falar em ‘Só por hoje', uma companheira do grupo, que não vive a realidade da adicção, mencionou na dificuldade que ela tem de compreender isso. Que não consegue se imaginar vivendo apenas o HOJE. Que ela vive o PARA SEMPRE.

Tentamos explicar que o nosso SÓ POR HOJE funciona na base de um PARA SEMPRE...
SÓ POR HOJE escolho ser uma pessoa melhor e mais feliz, e assim será PARA SEMPRE!
Que viver assim, significa apenas viver da forma que Deus nos ensina. Um dia de cada vez...
Que o AMANHÃ está nas mãos de Pai.






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