quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Contrários


Boa tarde e uma ótima quinta-feira a todos!

Quando estivemos no RJ para a convenção de NA, pude perceber que eu, na minha infância e adolescência, era uma presa fácil para cair no mundo da drogas.
Por muito tempo vivi centrada em minhas dúvidas, frustrações, medos, falta de aceitação, sentimentos depressivos e de vazio, enfim... Todos aqueles sentimentos que levaram os adictos a desenvolverem a doença.
Ao ouvir os depoimentos, principalmente das mulheres, eu era capaz de me identificar em muitas falas, em muitas situações.
Agradeci a Deus por não ter acontecido comigo.
Meu amor chegou a comentar “Para você, seria uma fuga e tanto...”

Ainda não sou capaz de perceber os motivos pelo qual alguns, como eu, não trilham por esse caminho, mesmo com todas os sentimentos favoráveis a isso, e outros, como meu amor, acabam fazendo essa escolha.
Eu sempre fui muito medrosa, e ainda sou. Tenho medos simples, como de escuro, de barata, de atravessar a rua, de me perder; e tenho medos grandiosos, como de perder alguém que amo, de ser vítima de violência e de acidentes.
Mas já tive medo de não ser aceita, de não ser amada, de ser infeliz, de ser chata, feia, burra, e outras coisas assim.
Talvez o medo tenha sido um grande aliado meu, pois, apesar das várias chances que tive de experimentar cocaína na juventude, sempre tive medo dela, medo de gostar!

Após sete anos de terapia, estou aprendendo a lidar com esse turbilhão de pensamentos errados que giravam na minha cabeça e criavam milhares de conflitos internos. Muita coisa já melhorou dentro de mim, sinto-me bem mais madura. E não permito mais que a falta de amor próprio seja minha melhor amiga.
Antes tarde do que nunca!

Eu nunca me imaginei vivendo ao lado de um DQ ou um alcoólatra, na verdade, eu não imaginava nem a profundidade desse problema. Acho até que, como a maioria das pessoas, não pensava no assunto, pois eu não tinha nada com isso!

Sofri muito na fase ativa do meu amado, pois descobri minha impotência perante esse inferno. Mas vê-lo lutando e buscando ficar bem a cada dia me dá forças para aceitar suas limitações e lutar junto com ele.
Lembro-me de que quando nos conhecemos, há anos atrás, quando só tínhamos um singelo “casinho”, e eu achava que ele apenas fumava maconha e cheirava de vez em quando, mas que não era nada grave; eu cheguei a pensar “talvez, se ele começar a gostar de mim de verdade, ele pare com isso”.
Eu desejava que ele gostasse de mim, pois sempre foi divertido estar com ele, eu me sentia bem, mesmo sem maiores envolvimentos.

O terapeuta da clínica, outro dia, disse uma frase clássica: “Parar de usar drogas é muito fácil. É só você mudar sua vida toda!”

Hoje sou capaz de compreender que ele não tem que parar por mim. Ele tem que parar por ele mesmo. Por perceber o que a droga foi capaz de fazer com sua vida, e até onde ela foi capaz de levá-lo.

Mas veja bem, Padre Fábio de Melo, no programa de ontem, falou, de forma muito sábia, que “renovar o sentido da vida, carece olhar as pessoas que estão ao nosso redor”. E ele citou como exemplo, justamente os alcoólatras e dependentes químicos. Que, ao ter a real noção do sofrimento que está causando a quem o cerca, o usuário pode sentir-se motivado a mudar de postura por amor. Ele pode ser capaz de mudar suas escolhas ao descobrir que existe alguém que o ama, e assim ele também aprende a amar.

“Sabemos que amamos quando somos capazes de mudar posturas por aqueles que amamos”.

Ele iniciou o programa dizendo que precisamos desenvolver a capacidade de fazer a leitura do avesso das pessoas e das situações. Que isso nos levará a uma melhor compreensão dos momentos que estamos vivendo. E que quando conseguimos identificar as situações inadequadas em que colocamos a nossa vida, daremos início a um processo de transformação.

“A vida é muito mais bonita quando superamos nossas mentiras e infidelidades”

Ele falou também sobre o significado exato do perdão.
“Perdão é querer bem”.
Algumas vezes é bom nos perguntarmos por que certas coisas nos magoaram tanto, isso nos ajuda a superar e a encontrar um sentido.
A chave para o perdão está em descobrir o quanto se ama. Ou seja, quanto maior o laço com a pessoa que precisamos perdoar, mais fácil é, pois maior é a necessidade de superar e esquecer. Quando não há laços, as coisas ficam mais complicadas.

Pessoas como os alcoólatras e usuários de drogas ilícitas precisam encontrar um sentido para renovar sua vida. Eles precisam descobrir o caminho do amor, do perdão, do renascimento. E nós precisamos aprender a olhar o avesso deles.

Que venha a nova vida... Cheia de novas flores...

Meu amor chega daqui a pouquinho do Pico da Bandeira. Estou com saudades... 

Contrários
(Pe. Fábio de Melo)

Só quem já provou a dor
Quem sofreu, se amargurou
Viu a cruz e a vida em tons reais

Quem no certo procurou
Mas no errado se perdeu
Precisou saber recomeçar

Só quem já perdeu na vida sabe o que é ganhar
Porque encontrou na derrota algum motivo para lutar

E assim viu no outono a primavera
Descobriu que é no conflito que a vida faz crescer

Que o verso tem reverso
Que o direito tem o avesso
Que o de graça tem seu preço
Que a vida tem contrários
E a saudade é um lugar
Que só chega quem amou
E o ódio é uma forma tão estranha de amar

Que o perto tem distâncias

E o esquerdo tem direito
Que a resposta tem pergunta
E o problema, a solução
E o amor começa aqui
No contrário que há em mim
E a sombra só existe quando brilha alguma luz.

Só quem soube duvidar

Pôde enfim acreditar
Viu sem ver e amou sem aprisionar

Quem no pouco se encontrou

Aprendeu multiplicar
Descobriu o dom de eternizar

Só quem perdoou na vida sabe o que é amar
Porque aprendeu que o amor só é amor
Se já provou alguma dor
E assim viu grandeza na miséria
Descobriu que é no limite
Que o amor pode nascer 


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