quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

11 meses - Se eu fosse você


Oi pessoal, bom dia!

Outro dia estava conversando com uma amiga do AE e falei que o tempo está passando rápido. Ela discordou. Disse que no nosso caso, que matamos um leão por dia com nossos adictos, ela acha que o tempo custa a passar, que as 24 horas às vezes são longas demais!

11 meses!
Pisquei e passaram-se 11 meses.
Pisquei e vi 11 flores nascerem na vida dele, uma colhida a cada mês!

Para mim, no início cada dia parecia ter 1000 horas. Realmente custava a passar. Mas agora sinto que minha vida voltou a correr normalmente, de forma mais leve. Não fico mais ansiosa pensando nos minutos em que ele se mantém limpo, ou se ele voltará para casa ou não.
Na verdade, eu me proibi a voltar a viver daquela maneira tensa. Convenci a mim mesma de que se fosse para viver como uma bomba relógio eu não queria!

É claro que no começo não foi tão simples. Ele saiu da clínica, veio direto morar comigo e não estava trabalhando nas primeiras semanas. Sentia-me insegura em deixá-lo sozinho, e ele também estava cheio de medos. Tive receio dele estar me manipulando, tive medo até de estar sendo precipitada. Alguns fantasmas ainda estavam sobre o mesmo teto que eu. Mas foquei, e não permiti que isso me dominasse e segui em frente.

Entreguei e confiei!

Lembro-me de quando soubemos do primeiro amigo que recaiu. Ele me abraçou e disse que sentiu seu corpo tremer. (Graças a Deus esse amigo já se reergueu!)

Mas aos poucos as coisas foram ficando mais leves para mim, o que não quer dizer que eu esteja numa zona 100% confortável em relação à doença dele, ou que eu tenha plena certeza de que ele nunca mais vai usar. A minha única certeza é de que a escolha é dele, e eu não posso fazer nada!

Não posso dizer que para ele as coisas estejam assim também, que os dias corram de maneira normal. Até imagino que não. Acho que talvez o leão que ele mate seja maior que o meu, em relação às escolhas do dia a dia. Mas sei que ele está feliz com seu tempo limpo.
Outro dia brincou: “Estou doido para receber a ficha de um ano!”. Parecia criança esperando por um brinquedo novo.

11 meses... Sim, definitivamente, passou rápido!
Ontem ele falou com um sorriso nos lábios: “Amanhã eu completo 11 meses!”

E cada dia sinto mais orgulho quando o vejo sair para trabalhar, lindo, todo engomadinho e cheiroso; ou quando vejo o zelo que ele tem por seus bichinhos internados; ou quando escuto ele conversando com familiares por telefone; ou quando acordo de madrugada e vejo sua serenidade dormindo, seus pesadelos já não aparecem mais para importuná-lo.

Devagar as coisas foram se tornando mais serenas de forma espontânea. E minha gratidão a Deus sempre será eterna.

Mas é importante frisar que isso não significa que Deus me atende e não atende a você, ou que Deus ama mais a mim que a você, ou que sou mais abençoada. Não... Deus ama a todos nós da mesma maneira. Não pense que Deus não te ouve, pois seu DQ ainda insiste em permanecer na ativa. A diferença é que meu amor escolheu sair das trevas para aprender a viver na luz, permitindo a ação do Poder Superior.

E também não pense que estou vivendo apenas na Primavera. Ainda há um longo percurso a seguir. Ele ainda tem atitudes egoístas/egocêntricas, o que algumas vezes me aborrece. Sua mudança de comportamento ainda tem muito a ser moldada, principalmente no quesito cooperação. Às vezes penso que vou enlouquecer com as bagunças dele (risos).

Gente, vou contar meu desejo secreto: Gostaria que TODOS os homens vivessem um dia a vida de uma mulher!
Tipo no filme “Se eu fosse você”, na qual marido e mulher têm suas personalidades trocadas. Eles formam um casal rotineiro com as divergências comuns. Um dia percebem que estão em corpos trocados e assumem a vida um do outro, tendo que aprender a ver o ponto de vista de cada qual sob um novo ângulo, que até então fora superficialmente sentidos por eles, e que agora, são intensamente vividos.

Acho que para as mulheres tal situação seria mais fácil de ser vivida. Parece que temos esse dom, de sabermos nos colocar no lugar do outro. Deve ser por causa da tal “sensibilidade feminina”. Mas os homens, no geral, não conseguem! Eles ainda acham que nossa vida é mansa!


A diferença (talvez positiva) entre um adicto e um “homem comum”, é que o DQ sabe que precisa ter essa mudança comportamental, pois isso está atrelado à recuperação dele. Observo casos de amigas casadas com esses homens comuns que relatam atitudes de seus companheiros exatamente iguais às de meu bem (ou até piores), porém essas mulheres encaram isso como sendo o “jeito deles”, e nem percebem que a mudança de postura deles seria fundamental para um relacionamento mais saudável.

É o tal do apontar o erro do outro sem olhar para seus próprios. É o tal de achar que “ele age assim com ela, pois teve problemas com drogas”, sem se dar conta que seu companheiro pode estar fazendo igual sem nunca ter usado drogas. É o tal do conceito pré-formado sobre os DQs.
Uma amiga acha que estou na defensiva. Estou certa que não, só estou vendo as coisas de forma mais clara. E o ser humano é, de fato, cruel ao observar os defeitos dos outros, mas não é capaz de assumir os seus.  

Enfim... É por isso que essa diferença pode ser positiva!
O DQ sabe que PRECISA mudar sua postura, o Programa lhe cobra isso, já homens normais não!

11 meses...
337 dias...
Muitas flores!

Só por hoje estou procurando minha serenidade e tentando não me importar tanto com os problemas do mundo, enquanto eu não resolver os meus (tipo, aprendendo a ser um pouquinho egoísta, sabe?).
Só por hoje minha vida está mais que normal.

Desejo horas, dias, meses e anos de paz e serenidade!

Um comentário:

  1. Onze meses... Feliz por vocês! Parabéns para ele, e felicidades ao casal!!!

    Essa encrenquinha entre homem e mulher é antiga, e realmente nada tem a ver com dependência química. O que acontece é que o homem normal que grita com a mulher, está estressado. E o homem adicto que grita com a mulher está em abstinência... Risos.

    O fato é que cabe a nós nos amarmos e aceitar apenas o que queremos aceitar. Mas, só aprendemos isso aqui. Por isso, no fundo, somos privilegiadas... Isso mesmo, privilegiadas!

    Grande beijo, flor!
    E muitas primaveras pra vocês dois! E verão também, que é uma delícia... Risos.

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