segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Não resisti, vim dar um "Oizinho"...

Oiê...

Não resisti, precisei vir aqui para dizer que estou bem.
Final de ano tranquilo, assim como o início do novo ano.
Em paz e conseguindo manter a serenidade ao longo das 24 horas que recebo para desfrutar a vida.

Ainda não é hora de voltar a escrever de maneira rotineira.
Ainda não é hora de muitas coisas. E repito isso para mim mesma todos os dias.

Entretanto, eu resolvi dar uma passadinha aqui para explicitar no que (ou em quem) me transformei após a dependência química ter feito parte de minha vida...

O desabrochar de uma Flor...


Da infância a adolescência...
Sempre fui sonhadora e vivia num mundo paralelo acreditando que os sonhos deveriam ser como nos contos de fadas  e não me conformava quando descobria que as coisas "não eram bem assim".
Um ciclo contínuo de autopiedade e uma sensação de vazio associada a sentimentos depressivos e de solidão me acompanharam desde a infância...
Eu era insatisfeita comigo mesma, com minha aparência, com meu corpo...
Eu não me aceitava e cresci me jugando como a pior das criaturas, aquela que sempre faz tudo errado. Sofria demais por tudo.

Da adolescência a juventude...
Entrei na faculdade muito nova, aos 17 anos, e fui morar em outro estado, a 650 Km de casa. Na época, nem eu acreditei que tive essa coragem. Eu não fazia nada sozinha, sempre fui dependente de alguém.
Só comecei a entender que eu tinha algumas capacidades por volta dos 20 e poucos anos, mas ainda assim, o medo era meu maior companheiro.
Auto-estima era uma palavra que não existia no meu vocabulário. Tive alguns "lances afetivos" nessa época, mas nada sério. Nenhum relacionamento concreto.
A auto-piedade era muito viva em mim. Latente...
Entretanto, eu já sabia que eu existia!
Concluí a faculdade e retornei para casa.

Da juventude a vida adulta...
Os sentimentos de vazio ainda faziam parte de mim. Culpas, medos, autopiedade, solidão, auto-estima  ZERO...
Lembro que só tive coragem de sair de casa usando um short (para algum lugar que não fosse praia) aos 26, 28 anos, por aí...
Conheci o DQ de minha vida em 1999, num carnaval, com 23 anos.
De 1999 até 2005 tivemos encontros e desencontros que aconteciam esporadicamente e sem compromissos.
Mas sempre era bom, deliciosamente divertido, mesmo sem termos nada sério, concreto...
Ele sempre soube me fazer sorrir.

Em paralelo, tive meu primeiro relacionamento sério com um outro cara. Eu era professora e ele office-boy. Foi uma história meio "Eduardo e Mônica", mas sem o final feliz narrado por Renato Russo. Uma relação doentia e dada ao fracasso desde o início.
Eu dependia emocionalmente dele e cai num fundo de poço com o término. O sentimento de autopiedade ficou ainda mais intenso...
Comecei a fazer terapia em 2007 e levei alguns anos para me reerguer.
Hoje olho para trás e vejo como, desde aquela época, eu já era completamente codependente.


RESUMINDO: levei cerca de 35 anos para começar a entender que eu era alguém.


A vida adulta - PARTE I
ANTES e DURANTE a DQ...
Com a terapia eu entendi que eu existo, que tenho valores, qualidades etc...
Mas ainda permaneci muito tempo cheia de conflitos e a auto-estima meio complicada. 
O DQ reapareceu na minha vida em 2011. Mas dessa vez iniciamos um relacionamento e hoje sei que aquele encontro de 1999 foi amor a primeira vista...
Eu acabara de sair do fundo de poço do relacionamento anterior.
Lembro das palavras de minha psicóloga: "Fique atenta, os DQs são extremamente sedutores!".
Acho que não compreendi muito bem o que ela queria dizer e encarnei o espírito de salvadora da pátria que tinha a missão de cuidar dele e protegê-lo. Tornei a me afundar! Claro!
E o poço foi muito, muito, muito fundo dessa vez...
E o resultado foi a internação dele, em 2012, de maneira traumática e dolorosa.
Ele havia perdido tudo, só lhe restava a vida.

A vida adulta - PARTE II
Dentro do poço havia uma mola...
Não sei explicar muito bem de onde veio a força que me impulsionou, acho que foi da fé.
Percebi que não adiantaria ficar lamuriando e deixando a dor me corroer. E então, descobri que havia uma mola dentro do poço, e essa mola me ajudou a sair de lá.
Algo dentro de mim gritava por respostas, eu queria compreender o por que daquilo tudo e, por isso, quando ele estava internado estudei muito sobre sua doença. Eu consigo perceber, com riqueza de detalhes, a metamorfose que passei.
O fato de ser professora de química, abordar o assunto nas aulas e trabalhar num ambiente onde a droga faz parte do contexto me ajudou bastante.
Três meses após sua internação nós reatamos.

Foi a primeira vez na minha vida que eu fiz algo que EU queria fazer, que tomei uma decisão com base nos MEUS sentimentos. E eu estava disposta a encarar o mundo para assumir a MINHA decisão de ficar com ele, independente do nariz torcido de alguém.

Eu era outra pessoa.

- Aprendi que não tenho que dar satisfação da minha vida para ninguém (salvo minha mãe).
- Não preciso que as pessoas aprovem minhas escolhas. Sou responsável por elas e por suas consequências.
- Aprendi que sou a única responsável por minha felicidade e por minhas tristezas.
- NINGUÉM, além do meu Poder Superior, sabe dos anseios do meu coração. As pessoas sabem apenas o que eu permito que elas saibam.
- Aprendi que em boca fechada não entra mosquito.
- Aceitei por inteiro meus defeitos e descobri minhas qualidades, meu valor e meu potencial.
- Descobri a felicidade pertinho de mim.
- Enxerguei que usava a máscara da auto-piedade e resolvi tirá-la.
- Descobri que minha auto-estima estava quase anulada e precisava mudar isso.

A vida adulta - PARTE III
Hoje completam-se exatos seis meses que o meu grande amor se foi.
E eu estou viva.
E outro dia, pensando na vida, comparei o rompimento com adicto com o rompimento com aquele outro cara, que mencionei na fase da "juventude a vida adulta".
Fiquei muito feliz com o resultado ao perceber o quanto evoluí...

Aceitação é a palavra que descreve o rompimento.
Chorei desesperadamente durante QUATRO dias. Depois olhei para mim mesma e disse:
"Eu tenho um Programa de Recuperação e um Deus amoroso que quer o meu melhor e que sabe de todas as coisas".

Aceitei a realidade que Deus havia preparado para mim, e a cada dia eu digo a mim mesma:
"Só por hoje o que eu tenho é a ausência dele aqui. Posso aceitar isso ou sofrer. Escolho aceitar!".

Aceitação, maturidade, sabedoria e uma busca contínua pela serenidade. É assim que eu vivo durante as 24 horas que recebo do meu Poder Superior.
A certeza de que tenho muitas qualidades e o reconhecimento de meus defeitos e meus desvios de caráter fazem com que a minha auto-estima cresça.

Ainda tenho um longo caminho, principalmente no que diz respeito a ansiedade, meu imediatismo. Eles fazem com que eu me sabote sempre.
Meu foco agora é trabalhar para controlar isso.
Acho que existe um ar de adicta em mim, pois tenho dificuldades em relaxar (risos).
Ainda tenho medos e receios. Ainda erro muito, mas aprendi a me perdoar diariamente e isso tem me trazido uma enorme leveza e paz no coração.

Mas, ao menos, hoje eu sou capaz de identificar os momentos de aflição exagerada, o que me leva a tentar respirar fundo, contar até 10 e esperar... Esperar o tempo certo...

RESUMINDOCom a ajuda de um Programa, levei cerca QUATRO anos para sofrer uma  metamorfose. Foi tudo muito rápido e mágico!


Concluindo: Precisei passar por um tsunami para me descobrir e me transformar numa pessoa infinitamente melhor do que eu era.
A DQ é muito triste e avassaladora, mas eu lutei para tirar o melhor dela.
Sim, eu aprendi que em tudo que passamos na vida podemos tirar algo de bom, basta mudar o olhar e enxergar as graças divinas.
Gratidão por eu ter me transformado em quem eu sou hoje!


Reflexão para hoje: 
Que eu me lembre sempre que a autopiedade destrói, enquanto a auto-estima me faz crescer. Crescendo sou capaz de me transformar em um ser humano desprendido e rico em emoções, podendo espalhar paz e serenidade onde vivo.
(Trinta e um dias no Nar-Anon - dia 5)

Paz, luz e 24 horas de serenidade a cada um de vocês!

8 comentários:

  1. Lindo!!! Suas palavras são suaves e doce. Acho lindo o seu caminho de recuperação...quero um dia chegar lá. ...preciso disso. ...preciso desesperadamente . Vc é minha inspiração.

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    1. Gratidão pelas palavras e pelo carinho, minha querida!
      Um dia de cada vez...
      Não se desespere, o sentimento de paz e a aceitação vem quando nós permitimos que eles venham. Você chegará aonde quiser, desde que se concentre em você e na sua respiração.
      Parece muito teórico, não é? Mas é assim que funciona!
      Procure uma sala. Lá você encontrará todas as respostas.
      Tamujuntas...

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  2. Flor... Amei sua biografia!
    Não compreendo como muitas pessoas, incluindo eu, nascem e crescem no meio de amor, mimos e pessoas relativamente inteligentes, que deveriam crescer aprendendo coisas boas e positivas e crescem com baixa auto estima, cultivando a auto piedade...
    E mais que isso, funcionam como imãs para atrair coisas e pessoas que tornem esse ciclo vicioso mais forte?! Não entendo...
    Ai nos conhecemos e nos apegamos a pessoas com um problema de DQ a qual nos vemos com a chance de fazer algo de bom em nome do "amor incondicional" sofremos o pão que o diabo amassou nas mãos dessa doença, que pra mim é terrível e ao chegar ao fundo do poço, num túnel sem fim, nos deparamos com nós mesmas! E ai... pasmem!!! Ou mudamos ou mudamos... Ou buscamos o melhor ou buscamos o pior, nos tornando melhores ou piores, porque há sempre dois caminhos!
    E em paralelo ainda temos nosso DQ que nos sugam absurdamente as energias, sendo na ativa ou na recuperação e o mais engraçado vendo agora por outro prisma - SOBREVIVEMOS e SOMOS FORTES e VENCEMOS, sim vencemos porque de toda forma é uma grande vitória sairmos da condição de "coitadinhas" - autopiedade com medo de tudo e todos e sofredores para MULHERES DE FORÇA QUE LUTAM PELO QUEREM E PELO QUE AMAM INDEPENDENTE DO QUE HOUVER!
    É minha amiga, assim como vc nós passamos nossas metamorfoses e batalhamos e vencemos, porque mesmo possamos perder o DQ p as drogas ou para uma separação nós vencemos a nossa luta interna! Aprendemos muito e crescemos muito e isso é uma grande VITÓRIA!
    Parabéns por suas palavras bem colocadas, são exemplo para muitas que estão entrando nesse mundo, muitas vezes no auge da ativa e da sua co-dependência... TUDO E VÁLIDO
    TUDO É APRENDIZADO
    APRENDIZADO E VITORIA!!
    E assim como vc, me vejo melhor e tbm venci a autopiedade, o auto engano, a melancolia e a fraqueza!
    E muitas outras tbm e outras tbm serão!
    bjss
    TMJ

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    1. Uau... (rsrsrs)

      Como eu disse, é preciso deixar claro que a dor vivenciada foi permitida por mim mesma. A escolha foi minha e as consequências também são.
      O adicto não é responsável pelo meu sofrimento, afinal, ele não me obrigou a entrar na relação.
      E imagino que com todas nós tenha sido assim também...
      No meu caso, a partir do momento que descobri que o sentimento era amor, e não dependência afetiva, eu lutei para tirar o melhor do caos!
      E isso me tornou uma pessoa melhor!
      Não desejo que ninguém passe pelo que nós passamos.
      Por isso, meu conselho para quem está "entrando nessa vida agora", ainda sem maiores sentimentos, é que reflita se vale a pena.
      Tamujuntas, sim, querida...
      Muito bom ter você aqui comigo.
      Beijos

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  3. Ah, sim com ctz.. nem mencionei a questão do livre arbítrio, que fazemos porque queremos e não porque somos obrigadas... p não alongar... senão já viu, rsrsrs!!
    bjss

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  4. Que bom que não resistiu e veio dar um oizinho... rsrsrs eu precisava ler tudo isso... Paz e serenidade a você querida!

    Ps.: Repetindo, somos MUITO parecidas... rsrsrs

    Cris

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  5. Lindas palavras suas também sharon. Há anos vivo em um ciclo de auto destruição com o meu dp. Somente há pouco tempo me descobri codependente. Desde então venho pesquisando e achei o blog da flor, Poly e outros com relatos tão lindos...estou em busca de recuperação. Preciso de vocês! Preciso que segurem em minhas mãos...estou em uma fase de tristeza profunda. Vou seguir o conselho e o caminho de vocês guerreiras e procurar ajuda. Bjs

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    1. Carla, querida...
      Bem vinda!
      Feliz por ter você aqui, partilhando conosco...
      Dor partilhada é dor amenizada, lembre-se sempre disso!
      Por isso os Grupos são salas onde verdadeiros milagres de recuperação acontecem...

      O seu processo de recuperação depende única e exclusivamente de VOCÊ e se quiser encontrá-lo, você vai conseguir...
      Procure um Grupo, querida...
      Faça isso o quanto antes.
      Dê o primeiro passo.
      Permita-se...

      Eu frequentei o Amor Exigente por pouco mais de um ano, mas me identifiquei mais com o Nar-Anon.
      Digite esses nomes no google que você vai descobrir um bem pertinho de você.

      Mas lembre-se que cada pessoa tem seu tempo...
      Não existem fórmulas mágicas ou receitas secretas.
      O que existe é aceitação e boa vontade.

      Faça isso por você, pelo seu bem estar.
      Leia a literatura e você verá, dia a dia, uma nova mulher nascer.
      E a serenidade virá junto com uma nova maneira de viver.

      Tamujuntas...
      Beijos
      Luz e paz!

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