segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

"Mais uma vez"

Bom dia, flores do dia!!!

Hoje quero falar um pouco de escolhas...

Quando eu aceitei namorar e, posteriormente, viver ao lado de um dependente químico, a escolha foi minha. Isso significa que se passei por grandes tribulações ao lado dele, se sofri, se virei noites em claro, se chorei, enfim, se qualquer outra coisa, ninguém, além de mim, pode ser responsabilizado por isso. Cada um de nós vai arcar com as consequências de nossas escolhas.

Se hoje eu estou afastada do convívio com minha irmã e minha afilhada (que é como uma filha para mim), isso aconteceu devido a uma escolha errada que fiz. Procurei resultados diferentes com atitudes iguais (leia clicando aqui). Está doendo muito, mas não posso fazer nada, além de esperar o momento de Deus.

Uma vez minha sogra falou que, voltando de viagem, presenciou uma jovem bonita e grávida descendo num trecho da estrada que é próximo a uma penitenciária. Ela só poderia estar indo para lá, uma vez que não há outra coisa nos arredores. Minha sogra disse que sentiu muita pena da moça. Eu respondi:

"Sinceramente, eu não tenho pena, por mais triste e constrangedora que seja a situação. Ela escolheu viver aquilo, e é ela que está aceitando permanecer assim..."

Vejam bem, não estou sendo fria, ao contrário, sou extremamente sensível às escolhas e às emoções do ser humano (choro até com final de novela da Globo!). Mas o fato é que essa moça poderia ter deixado para lá, ter tentado recomeçar a vida ao lado do filho que trazia no ventre, e quem sabe tentar encontrar um novo amor. Sempre é possível recomeçar, mas ela ainda acredita nele, e isso lhe dá forças para visitá-lo, para lutar. Essa é a maneira que ela encontrou para recomeçar.

Eu também poderia ter dado as costas para toda aquela tribulação quando ele estava na ativa, quando, por várias vezes, eu achei que não tinha mais forças para aguentar tanto sofrimento. No início eu permaneci ao lado dele porque eu acreditava que poderia "salvar sua vida" (codependência pura)... Depois, eu vi que não dependia de mim, mas mesmo assim preferi ficar, simplesmente porque eu acredito no poder de superação do ser humano.

Além disso, o fator principal que me fez permanecer ao lado dele foi o amor que sinto. O amor, muitas vezes, é um santo remédio! E acho que tomei a dose certa do remédio, pois hoje sei que o amo de forma saudável, sem posses, sem a sensação de que sou responsável por sua recuperação. Então, se eu aprendi a amá-lo, aceitando suas limitações, por que deveria deixá-lo nos momentos difíceis?

Eu o amo muito. Tive que aprender algumas coisas para vivenciar essa relação, mas não me arrependo. Na verdade, até agradeço, pois me tornei mais madura. Talvez, se eu não tivesse vivido aquela tempestade, eu não tivesse aprendido a me valorizar, a aceitar que não posso abrir mão de todas as minhas vontades apenas para satisfazer o outro, etc... Eu agia assim com meu ex-namorado, e certamente continuaria assim com o(s) próximo(s). 

Dizem que o tempo nos ensina muita coisa, e ensina mesmo. Aprendi, a tirar o melhor de tudo que me acontece, mesmo que seja a pior de todas as situações. O distanciamento da minha irmã, por exemplo, me fez aceitar que sou impotente sobre ela, e sobre suas escolhas também. Assim como eu já sabia de minha impotência perante meu adicto.

Depois que meu bem aceitou sua doença e resolveu lutar para tentar adormecê-la, já que não há cura, eu vejo que vale a pena estar com ele.
Somos amigos, cúmplices, amantes, irmãos. 
Outro dia Padre Fábio falava sobre as relações, e que precisamos praticar o amor fraterno, que é o amor que aprendemos a ter com nossos amigos. Não escolhemos um amigo. As amizades simplesmente acontecem! Deus nos envia as pessoas para nos ajudar a suprir as ausências.

"Em um casamento, se não houver o amor fraterno, se marido e mulher não forem amigos, se não houver diálogo entre os dois, logo o casamento entra em crise. O vínculo fraterno é o único que nos torna livres, pois com ele não há prisões. O amor materno, paterno, ou entre um casal não é suficiente, é preciso associar o amor fraterno nessas relações..."

Ouso a dizer que, na medida do possível, estamos aprendendo a praticar esse tipo de amor.

Mas também somos limitados, e por isso, algumas vezes erramos um com o outro, mas a cada erro eu procuro ver o que preciso corrigir e uso o erro a meu favor, assim como ensinava aos meus alunos na Escola. Os DQs têm dificuldades de aceitar seus erros, mas mesmo assim, em doses homeopáticas, eles tentam ser pessoas melhores. Na verdade, a maioria dos seres humanos é limitada quanto ao fato de assumir falhas, mas essa limitação é um pouco mais acentuada neles, assim como o egocentrismo e o egoísmo.

Se hoje meu amor voltar para a ativa, minha consciência está mais que tranquila. Se ele perder o emprego, perder o cargo de Secretário do grupo, se perder a mim, ou perder qualquer outra coisa, é claro que vou sofrer e até chorar muito (como já falei, sou chorona), mas o choro vai ser de tristeza por ele, de compaixão. Não assumo mais essa culpa. Aceitarei as escolhas dele e farei as minhas. Mas enquanto eu ver nele a vontade de ser melhor, estarei ao lado dele, lutando.

Os codependentes carregam muitas culpas. É comum vermos alguém dizendo que se tivesse feito isso ou aquilo, talvez o DQ não tivesse usado, que sente-se culpada(o) por não ter conseguido impedir a recaída, e essas coisas. É comum ouvirmos o adicto dizer que usou por "nossa" culpa, porque não fizemos isso ou aquilo por ele. É comum, também, vermos o adicto, na ativa ou apenas após uma recaída, nos pedindo para ajudá-lo a resolver o problema na qual se envolveu... E por isso precisamos ter em mente que somos responsáveis por qualquer escolha que fizermos. Se você vai pagar a conta de uma recaída que aconteceu por escolha DELE, não tem o direito de reclamar depois que não tem dinheiro, ou que não aguenta mais isso, ou que está se privando das suas necessidades para arcar com os erros dele.

Duas boas lições que tirei:
1- Não faça pelo outro aquilo que ele é capaz de fazer por si mesmo;
2- Não assuma a responsabilidade pelos erros do outro.

Por exemplo, um amigo dele disse para a namorada (um verdadeiro mulherão, diga-se de passagem), que estava com ele há uns 5 anos e se manteve junto durante toda a fase difícil, que queria terminar pois ele queria voltar a curtir raves e se divertir. Lembrando que "se divertir", nesse caso, é sinônimo de "usar drogas". Ele não recaiu, ele optou por voltar para a ativa. Ele escolheu! E as consequências disso são apenas dele, e de mais ninguém. Quanto a ela... Recomeçou, e está muito feliz. Ela poderia escolher entre viver lamentando por isso ou refazer a vida dela. Ela escolheu a segunda opção!

Quando eu erro, vou colher aquilo que plantei, mas posso aprender a fazer diferente da próxima vez. Eu acredito na capacidade de superação e na bondade das pessoas. Tem gente que me critica por isso, mas sou feliz assim!

Ontem postei no face um trecho de uma canção do Renato Russo que é muito propícia aos recomeços, a renovação da esperança, da fé... A música chama-se "Mais uma vez". Essa música nos ensina a viver uma dia de cada vez, a acreditar que podemos ter um dia melhor hoje, apesar das escolhas erradas que fizemos ontem.


"...Mas é claro que o sol vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei
Escuridão já vi pior, de noitecer gente sã
Espera que o sol já vem
Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena
Acreditar no sonho que se tem
Ou que seus planos nunca vão dar certo
Ou que você nunca vai ser alguém
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Mas eu sei que um dia a gente aprende
Se você quiser alguém em quem confiar
Confie em si mesmo
Quem acredita sempre alcança!..."

É fato, quem acredita sempre alcança... E quem cultiva, sempre colhe...

A frase do livro CEFE de hoje é linda, e também pode nos ensinar muita coisa:
"Não pode haver felicidade se as coisas em que acreditamos são diferentes daquelas que fazemos" 
(Freya Stark)

É isso...
Beijos com perfume de flores, e até a próxima!

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