terça-feira, 12 de março de 2013

Graziela...


Não sei se ele percebeu que eu estava chorando... Eu estava virada na cama, meio que de costas para ele, mas não sei se deu para disfarçar. Penso que não.  Meus últimos dias foram de fragilidade (TPM!), e eu estou numa fase chorona.
Muito se falou nessa semana que passou sobre a morte do Chorão, e no último domingo o ‘Fantástico’ fez uma reportagem grande com a (ex) esposa dele, Graziela Gonçalves.

E foi nesse momento que eu chorei...

Essas foram algumas das palavras dela, que disse ter perdido a luta contra as drogas.

“Eu tentei tudo que vocês podem imaginar, mas infelizmente essa praga mundial que é essa droga, que está acabando com tudo, ganhou. Eu espero que outras famílias e outras pessoas não passem por isso que eu estou passando, eu os familiares todos, o filho dele, a mãe, os irmãos, os amigos.”

Infelizmente sabemos que muitas famílias ainda sentirão essa dor.

Não é justo dizer que ela desistiu... Não é justo apontar o dedo e dizer que ela abandonou o barco... Não é justo dizer que ele usou até morrer porque estava deprimido por ela tê-lo deixado... Não é justo julgá-la... Ela simplesmente percebeu que não podia fazer mais nada e foi lutar pela vida dela.

"Nós estávamos afastados em razão do que estava acontecendo com ele, na verdade eu estava tentando trazer ele de volta. Toda mulher sabe que às vezes uma separação nada mais é do que uma artimanha, uma arma que a mulher se utiliza para fazer uma chantagem emocional. Mas infelizmente eu perdi a guerra”.

E ela, assim como nós, também cometeu erros típicos da codependência.

“Às vezes, eu tinha de pegar pesado, eu falava ‘Alexandre, não vou aguentar isso’, porque é muito difícil você ter uma convivência... No final (do casamento), ele usava dentro de casa. No meu pensamento eu preferia ele em casa do que longe, mas a partir de um determinado momento ele passou a sair para usar, para eu não ver e não brigar com ele.”

Ela está carregando nos ombros uma culpa que não lhe pertence:
“Eu sinto que falhei. Eu me pergunto, por que eu não lutei no dia seguinte? Mas eu sou um ser humano, também. Achei que teria outra chance, mas não tive.”

Imagino como ela deve estar se sentido sozinha. Se nós, “pessoas normais”, já temos uma dificuldade enorme de encontrar um ombro amigo que não nos julgue, que apenas nos compreenda e partilhe nossa dor, imagine para ela. Ela era esposa de uma personalidade, um cantor famoso, ou seja, mais difícil partilhar, tentar uma atitude, participar de grupos de apoio, sei lá...

Assim como, se é difícil para nossos adictos dar o passo inicial para sua recuperação, pense em como deve ser ainda mais complicado para alguém famoso, que vive na mídia, exposto a festas, shows, eventos e situações onde é comum encontrar farturas de bebidas e drogas. Imagine como seria para essas personalidades chegar a um lugar desses e dizer:

“Não bebo! Obrigado!” ou “Não... Não estou cheirando mais, cheguei ao meu fundo de poço e descobri que sou DQ!”

Não seria nada simples...
Assumir a adicção perante o público e fãs deve ser como assumir-se fracassado. A sociedade não consegue compreender que fracassada será a pessoa que insistir em continuar nessa vida. Ninguém, além daqueles que convivem de perto com a situação, os enxerga como doentes. A dependência química está associada à marginalidade... A sociedade aceita, e de certa forma impõe, o uso de drogas e bebidas nos eventos sociais, mas não sabe lidar com a situação quando se depara com ela. Eu também aceitava, até descobrir a dimensão da coisa.

Um filme passou diante de meus olhos...
Impossível não lembrar de todo aquele sofrimento vivido por mim e por tantas outras de nós.
Impossível não recordar de outubro de 2011, quando eu, juntamente com a mãe dele, e apoiadas pela irmã, também o internaríamos compulsoriamente. Mas, nos minutos que antecederam à chegada do resgate, nós desistimos, na esperança de que dessa vez ele iria se tratar por vontade própria. Doce ilusão!
Lembro-me das palavras do psiquiatra quando liguei avisando que havíamos resolvido dar mais uma chance:

“Olha... A decisão é sua, não posso te obrigar a interná-lo, mas, infelizmente, tenho certeza de que você está ‘enxugando gelo’!”

Ele estava certo, claro!

Impossível não recordar também, daquele dia 13 de março de 2012, quando EU quase morri afogada ao tentar salvá-lo. E também daquela tarde de 21 de março de 2012, quando o deixei no centro terapêutico, já sem forças, sem esperanças, sem sonhos... Eu havia rompido com ele na semana anterior.

Ambos estávamos destruídos por dentro e por fora. Ele, pelo uso compulsivo de sua droga de escolha, e eu, por ter me afundado na codependência...
Muito sofrimento!

Porém, não fui capaz de não me envolver com a sua internação. Percebi que eu era a única pessoa próxima a ele capaz de ‘fazer o certo’ naquele momento. Não sei de onde tirei forças. Não sei como consegui ser racional (sempre fui passional além da conta). Talvez por eu estar com muita raiva dele pelo que ele havia feito. Talvez por Deus estar segurando minhas mãos. Não sei!

Só sei que consegui manter o sangue frio e fiz o que eu deveria fazer!

Não olhei para trás quando o portão se fechou...

O mais patético é saber que muitas pessoas, realmente, achavam que ela estava exagerando ao pensar em interná-lo a força!
Eu não consegui não chorar ao vê-la falar. Senti a dor dela.

“Essa droga, ela tem uma capacidade... Parece que a pessoa está possuída. O corpo é o mesmo, mas parece que tem outro ser ali. As reações são outras, o jeito é outro, o olhar é outro. É ruim.”

A dependência química transforma a pessoa em alguém desconhecido a todos nós... É horrível...

Se eu pudesse, eu a abraçaria e diria apenas: “Estamos juntas!”


356 dias limpo!

Ontem, ao chegar do trabalho, nós ficamos deitadinhos no sofá assistindo juntos a um filme. O mundo parecia ter parado... Nada mais importava.
O telefone dele chegou a tocar, era o outro veterinário chamando-o para uma emergência.
“Agora não... Estou aqui com minha mulher vendo um filme... Minha prioridade é essa agora... Quando acabar aqui, eu passo aí.”

Meu coração sorriu!

Quando fomos dormir. Olhei para ele... Estávamos abraçados... Falei:
“Nada no mundo consegue pagar isso! Nunca!”
“Eu te amo!”

A gente não pode salvar o nosso DQ...
Então vamos fazer o que é possível a nós: Entregar e orar!

Fiquem com Deus! Fiquem em paz!

Boa tarde, pessoas...

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