quarta-feira, 5 de março de 2014

Bioquímica

Olá pessoal...
Paz e serenidade a todos!

Algumas vezes a minha mãe, dentro de sua ingenuidade e limitação para compreender a doença, me faz a seguinte pergunta: "Filha, ele está usando alguma coisa, às vezes? Você consegue saber se ele usou algo?"

Eu tento explicar-lhe que ele não tem mais controle, e que se usar qualquer coisa não conseguirá me esconder, que ele não vai conseguir "usar ou beber só um pouquinho e parar". E então ela se acalma, mas não consegue entender muito bem o porque de ser tão difícil, tão complicado. Acho que a cabecinha dela se enche de nós! Rsrsrs...

Já mencionei aqui que sou professora de Química, e hoje é a professora quem vai escrever para vocês. Talvez muitos tenham os mesmos nós na cabeça que minha mãe.

Estou finalizando um curso sobre tabaco, álcool e outras drogas, oferecido pela UFES. Foi um curso muito proveitoso. E esse mês iniciarei um outro específico para professores, da SENAD.

A dependência química é uma doença crônica e progressiva, além de complexa. O uso contínuo de substâncias psicoativas é capaz de provocar mudanças na estrutura/funcionamento do cérebro, ou seja, afetam diretamente o sistema nervoso central causando alterações mentais ou psíquicas.

Os neurônios são células nervosas responsáveis por transmitir as diversas informações ao cérebro, e ao corpo como um todo (dor, fome, medo, prazer, frio, sono, decisão de se locomover, etc...). Os neurônios liberam diversas substâncias químicas (neurotransmissores) que irão transmitir as informações necessárias (novamente: dor, fome, medo, prazer, etc...).

As drogas têm a capacidade de imitar os efeitos dos neurotransmissores. 

Como?

Vamos lá...

O cérebro possui um núcleo de prazer denominado "sistema de recompensa", cuja função é estimular comportamentos que favoreçam a manutenção da vida (entram aqui as atividades que causam sensação de prazer e bem estar: alimentação, sexo, lazer, sono, etc...).

As drogas agem, justamente, nessa região, gerando um prazer artificial, intenso e imediato. Concorrência desleal com as situações cotidianas, na qual o sujeito precisa enfrentar processos para alcançar o prazer desejado. Elas corrompem os mecanismos fisiológicos do cérebro, ou seja, o estímulo motivacional normal para se alcançar o bem estar é perdido, uma vez que a mesma sensação (e até maior) pode ser conseguida através de uma substância psicoativa.

Como?

O neurotransmissor responsável por agir no sistema de recompensa é a dopamina. A quantidade de dopamina produzida que não foi utilizada pelo cérebro, é recaptada e armazenada. A droga impede essa recaptação, fazendo com que haja um excesso da substância, o que causa uma enorme sensação de prazer e bem estar.

Com o uso constante o cérebro deixa de ser capaz de executar suas funções normais e passa a necessitar da droga para produzir dopamina.

Quanto mais rápido o início dos efeitos da substância psicoativa de uso, maior a intensidade dos mesmos, entretanto e menor o tempo de duração. Isso faz com que o usuário sinta a necessidade de buscar novamente pelos efeitos iniciais, o que aumenta o risco da dependência. O que explica os altos índices de dependência por cocaína e crack.

É isso minha gente, espero ter sido clara em minha "aulinha". Procurei utilizar termos não tão técnicos para facilitar a compreensão.

Ou seja...
Não é tão simples tratar a dependência química... É orgânico, é físico e psicológico. Tudo junto e misturado!


Ah, e, apenas como curiosidade, a cocaína tem efeito vasoconstritor (contrai os vasos sanguíneos), e por isso, antigamente chegou a ser muito utilizada como anestésico pela medicina.


Atualmente estou lotada na Secretaria de Educação e lá eu componho o Comitê de Prevenção às Drogas na Educação. Uma de nossas ações foi a criação de um site para auxiliar o trabalho dos professores na abordagem da temática. O site é um sucesso e já ultrapassamos os 100.000 acessos em sete meses.

Confira:



Um excelente restinho de semana a todos, com muita paz e serenidade!


7 comentários:

  1. Nega...o Du consegue usar só um pouquinho...ele se "controla" durante um bom tempo até que se descontrola...ai perde a linha...depois se segura mais um tempo limpo, volta a usar controladamente e se descontrola...e assim é desde os 23 anos dele, hoje ele tem 37...então eu sou obrigada a discordar em partes...sim acontece da pessoa usar e da gente nem desconfiar, por isso se hoje me perguntam ele ta usando, minha resposta é não sei..certeza certeza...só com exame

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    1. Então, Nega, é isso...
      Se ele "se controla" por um tempo e depois se descontrola de novo e perde a linha, sinal de que não se controla coisa nenhuma!!! rsrsrrs. É auto-engano puro!

      Lembrando que a DQ é uma doença progressiva, ou seja, doses cada vez maiores são necessárias para se alcançar os mesmos efeitos, e é a doença do "AINDA".
      Ele "ainda" não matou, ele "ainda" não roubou, ele "ainda" não foi preso, ele "ainda" se controla, ele "ainda" trabalha normalmente, ele "ainda" não foi violento, ele "ainda" isso ou aquilo.

      Quando o DQ "ainda" usa controladamente é porque "ainda" não chegou ao estado crônico (vulgo fundo de poço máximo).
      O meu DQ não consegue mais usar "um pouquinho", sem chances pra ele, e ele sabe disso melhor que eu, e sabe também que não tem a mínima chance de me enganar.

      Quando ele estava na ativa às vezes tentava se enganar "fumando só um baseadinho" ou tomando "só uma cervejinha", mas esse controle só durava uns poucos dias, logo depois a recaída vinha feia, com força total.

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    2. usar controladamente...é usar uma dose e parar..isso é controle...e não descontrole...sim no caso AINDA, não se descontrolou totalmente...ele consegue dizer não, muitas vezes quando tem vontade..então AINDA, se controla...eu acho esse estágio péssimo, pq acaba facilitando o autoengano...diferente do fundo de poço como dizem...sem controle algum de nada...infelizmente quando se chega nesse estágio, muitos prejuízos irreversíveis já aconteceram....ai entra um pouco a filosofia do AE, de aproximar o fundo de poço, "forçando" a descida..largando a corda de vez...e talvez assim quando retornarem os prejuízos sejam menores...eu ainda acho que se fala muito em cracolândia, muito em crack, e muito pouco em prevenção de uma forma efetiva...quando se fala aos mais jovens que as drogas podem o levar a destruição, eles até ouvem, mais logo esquecem e voltam a se aventurar pelo alcool, maconha, achando que com eles o fundão nunca vai acontecer, então quando a droga consegue domina-los usando o autoengano...já era prisioneiro de si mesmos...eu não sei, mais penso que o tema dependência química, drogas ainda é muito mau abordado...inclusive no que se diz respeito a prevenção.....mais chegamos lá..bju

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  2. Acredito que esse caso de perda total do controle, é quando a doença chega em seu último estágio...conhecida como a do porco, onde nada mais importa a não ser a droga, porém é válido ressaltar que não somente quem chega nesse estágio está adoecido, ou dependente da droga, em estágios anteriores a dependência quimica já está instalada, porém ainda é fácil de se autoenganar, pois não chegou a nível de "cracolândia", que é o que acontece no caso do Du, e de muitas pessoas que conheço, tem uma vida aparentemente "normal" durante a vida toda e acabam morrendo de overdose ou se tornando esquizofrênicos antes mesmo de chegarem a situação de perda total do controle sobre as suas vidas...esses casos são a maioria e os mais difíceis de se tratar, como afirma o psiquiatra Içami Itiba em seu livro Drogas Anjos Caídos no caso co cocainônamo, o tratamento é muito dificil, pois fora de crise eles funcionam normalmente, ou seja, estão bem para serem "internados", mais ruim para serem "libertados"...é algo que vai muito mais além, acredito que os orgâos competentes deveriam dar mais importância ao foco do que ao incêndio propriamente dito...não adianta se especializar em tratar os dependentes da "cracolândia" se não estudam o que levam inúmeras pessoas do planeta a irem em busca da felicidade artificial...bjaum nega ..finalmente seu blog abriu aqui..ele vivia bloqueado..rs...

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    1. Exatamente...
      É o lance do "ainda"... Ele "ainda" não teve a motivação necessária para assumir e aceitar a doença.

      Com certeza o foco é muito mais importante, pois se ele for controlado, o incêndio não vai se espalhar!

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  3. Olá, estou namorando um dependente quínico .
    Logo de carra ele me contou, eu fico pensando. Quando todos querem distancia dos dependente quínico eu quero começar uma historia com um. Sera que eu estou ficando louca.
    Com esse relatos que eu vir aqui fiquei perdida, sei que ele precisa de ajuda. mas eu não tenho a força que preciso pra continuar.
    Mais não tenho coragem de larga-lo seria mais uma pessoa preconceituosa.

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    1. Bem vinda ao Blog, minha querida...

      Bom, a decisão de permanecer ou não na relação é somente sua. Ninguém poderá tomá-la por você.
      Só você sabe o que se passa em seu coração.

      Apenas posso te transmitir as palavras de minha terapeuta no início de minha relação:

      "Esteja atenta. Os DQs são extremamente sedutores e envolventes..."

      Essa frase foi uma das maiores verdades que já ouvi na vida.

      O único conselho que posso te dar é que, caso opte por permanecer com ele, procure, imediatamente, um grupo de apoio para familiares. Mas faça isso pensando em você, em seu bem estar.
      Você vai precisar disso. Ouso a dizer que isso é quase vital!
      Você precisará aprender a lidar com essa situação, principalmente se ele estiver na ativa.

      Amor exigente, Nar-Anor, Al-anon, Neuróticos anônimos.
      Todos são bons, e nos ajudam muito.
      Eu frequento o Nar-Anon há um ano e comecei, recentemente, no Neuróticos Anônimos.

      Caso não saiba como encontrar, digite qualquer um desses nomes no google que ele te ajuda.

      No mais, paz e serenidade!
      bjs

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